sexta-feira, 14 de novembro de 2014

" A Politização do Salário Mínimo "

Editorial Zero Hora


141114_princ_SEX_web
É decepcionante constatar que um tema de tanta importância quanto a fixação do reajuste para o salário mínimo regional esteja sendo tratado de forma irresponsável e demagógica pelos políticos, elevando o potencial de conflito entre trabalhadores e empregadores. Ao propor uma correção muito acima da inflação na antevéspera de sua saída do governo, o governador Tarso Genro desafia a legislação, coloca contra a parede seu sucessor e transfere para a Assembleia Legislativa o constrangimento de enfrentar a pressão de sindicalistas e organizações empresariais. Da mesma forma, ao evitar um posicionamento claro sobre a questão que inevitavelmente terá de enfrentar no início de sua administração, o governador eleito José Ivo Sartori só contribui para aumentar a insegurança. Resta esperar que os deputados tenham coragem e sabedoria para descascar esse abacaxi sem se deixar influenciar por interesses setoriais, tratando do assunto com responsabilidade, firmeza e justiça.
O primeiro ponto a ser elucidado diz respeito à legalidade do projeto, que está sendo questionada pela Procuradoria da Assembleia Legislativa por ter sido encaminhado no segundo semestre de um ano eleitoral. Ainda que o governo conteste isso, fica difícil de entender a pressa do Executivo em tocar o projeto, quando essa atribuição deveria ser do novo governador. Parece evidente a intenção de fazer média com os trabalhadores e criar desconforto para os sucessores.
O mais importante, porém, é encontrar um meio-termo entre o percentual pedido pelas centrais sindicais, que o governador acatou sem sequer consultar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, como era praxe em sua administração, e um índice suportável para os empregadores, que enfrentam a crise de estagnação e baixo crescimento da economia estadual e nacional.
Ninguém questiona o direito dos trabalhadores a salários dignos. O que não se compreende é o uso político de uma prerrogativa para desgastar adversários políticos, mesmo com o risco de gerar conflitos e provocar desemprego. É urgente que o parlamento gaúcho assuma a responsabilidade desse debate e busque uma alternativa que contemple a negociação, a justiça e o desenvolvimento do Estado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário