quarta-feira, 19 de novembro de 2014

" Golpe de Decência "

Editorial Zero Hora



O Brasil convive com sentimentos exacerbados pela sequência devastadora de notícias sobre o escândalo da Petrobras. A natural indignação com a amplitude do esquema montado por servidores da estatal e por um grupo de empreiteiras não pode, no entanto, ser confundida com posições que ultrapassam os limites da revolta e do engajamento a todos os esforços para que o caso seja desvendado. Estão fora de contexto as manifestações radicalizadas, das mais variadas formas, com a sugestão de que a solução para a corrupção poderia estar na supressão da democracia. O país não aceita, nem como insinuação, o eufemismo de quem defende uma intervenção militar. A defesa de um golpe, sob qualquer pretexto, deve ser rechaçada num país que, em sua história recente, conviveu com regimes de exceção ainda submetidos ao exame da verdade.
É compreensível que a sociedade esteja assombrada com as fragilidades dos controles, com o loteamento irresponsável das direções da empresa e com a demora do governo para reagir às denúncias. Desde as primeiras notícias sobre a compra da usina de Pasadena, estava claro que a transparência não presidia as ações da estatal. Em pouco tempo, ficou evidente que a transação superfaturada não significava um negócio de exceção, cometido por incompetência administrativa. As investigações acabaram por desnudar um sistema criminoso de superfaturamento de transações e serviços, com o objetivo de distribuir propinas a políticos.
É na inépcia do governo e no envolvimento de ocupantes de cargos públicos que se apegam os defensores de uma medida de exceção como resposta extrema à sensação de que corruptos e corruptores se apoderaram de patrimônios nacionais. O que se espera, nas próximas etapas das investigações, depois da identificação de servidores e empreiteiras que os corrompiam, é que a Polícia Federal e o Ministério Público cheguem aos nomes dos políticos que se beneficiavam dos desmandos _ e que todos sejam responsabilizados na forma da lei.
Mas não será pelo ataque indiscriminado e desqualificador da atividade pública que o país resolverá os problemas decorrentes do descontrole que consome as finanças e a reputação da Petrobras, os ganhos de seus acionistas e a própria imagem do Brasil no Exterior. O que o país precisa é de um golpe de decência, com o aperfeiçoamento das instituições, dos mecanismos de vigilância e das respostas da Justiça à sensação de impunidade. O Brasil encaminhará a solução de suas mazelas com mais democracia.

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