quarta-feira, 26 de novembro de 2014

" L´Homme RÉVOLTÉ "

Artigo Zero hora


GILBERTO SCHWARTSMANN
Médico e professor

Albert Camus escreveu O Homem Revoltado quando ninguém da “gauche” de seu tempo se atreveria a fazê-lo. Uma dura crítica aos revolucionários que se apropriam das nações.
Se vivo fosse, Camus faria aniversário neste mês. Era de 7 de novembro. Presto minha homenagem ao grande escritor, com um esquete que escrevi. Três atos e epílogo.
Ato I. O preso entra na sala. Senta-se ao lado do advogado. Os lábios tremem. Coloca-se à disposição do policial. Os dias de cadeia haviam produzido efeitos profundos em seu corpo. Estava emagrecido e pálido.

Abre o coração. Conta tudo. Quer acabar de vez com aquela angústia. Denunciar a camarilha toda. Menciona alguns nomes. Diz onde eram feitas as entregas. As malas repletas de dinheiro. As remessas em favor de aliados, parentes e amigos.
Ato II. O preso retorna. Acomoda-se na cadeira. Passa a descrever transações tenebrosas. As operações de câmbio. Como expatriava e trazia de volta somas enormes. Como faziam as indicações para cargos estratégicos.
A dança das nomeações. O homem certo no lugar certo. Revela quem eram os interlocutores. Como eles agiam para intimidar quem, lá pelas tantas, desse mostra de que pudesse fraquejar.
Ato III. Novamente, o preso na sala de interrogatório. Vomita a lista inteira. Executivos de grandes corporações, deputados, senadores e ministros de Estado. Coisa de arrepiar. As vultosas somas desviadas. Números de contas, agências e bancos. Conversas telefônicas. Códigos. Tudo.
O policial pede que o retirem da sala. Sozinho, faz várias anotações. Relê os depoimentos. A trama exposta, de cabo a rabo. Impressiona-se com a riqueza dos detalhes. Parece chocado. Não resta alternativa: os relatos só podem ser verdadeiros.
Epílogo. São duas da manhã. Um casal dorme. De repente, o homem desperta. É o nosso policial. Senta-se na cama. Está angustiado. Logo, o pensamento se torna mais claro. Olha para o vazio. E exclama: “Os dois sabiam! É claro que sabiam de tudo!”. Cai o pano.
Feliz aniversário, Camus. Você tinha toda a razão. Há que se revoltar contra revolucionários que se apropriam das nações.

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