quarta-feira, 26 de novembro de 2014

" Vazio pós - eleições "

Artigo Zero Hora


PAULO RICARDO BREGATTO
Arquiteto e urbanista, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUCRS

" ... o que sentimos é o vazio das ausências, da falta de esperança, da falta de respeito, ética e moral " 

Passado um mês das eleições, estamos presenciando picos de amor e ódio com relação ao resultado das urnas. As emoções afloraram nas redes sociais e mesas de bares. Uma avalanche de ironias e piadas _ a maioria carregada de preconceito _ sobre o zoneamento político e territorial expresso pelos dados extraídos das urnas, dividindo-nos entre Norte e Sul. Mais do que a expressão de convicções partidárias, o que temos acompanhado é uma demonstração de rancores oriundos muito mais das frustrações pessoais do que das expectativas de melhoria da qualidade de vida diante do voto.
Acabamos por experimentar este sentimento de discriminação geográfica, como se algumas regiões fossem mais ou menos responsáveis pelo destino político do país. Ideias divergentes tendem sempre a ocasionar conflitos de opiniões. Pior seria ficarmos apáticos diante do cenário político atual, suas causas e consequências. Não se trata, portanto, da busca da verdade absoluta, pois ambos os lados, mesmo divididos por diferenças ideológicas abissais, buscam a mesma coisa: transformação. Estamos vivendo um momento acrítico de irresponsabilidade de expressão, principalmente dos candidatos que tentaram travestir os diálogos superficiais com falsas cordialidades. Quando nos lembramos dos debates e quando nos libertamos do radicalismo das paixões, o que sentimos é o vazio das ausências, da falta de esperança, da falta de respeito, ética e moral, divulgados em rede nacional.
O lado bom foi reconhecer que há uma inquietação por parte dos eleitores. Um vigilante estado de alerta sobre os fatos vividos e sobre as ações por vir. A discussão política volta a ser praticada como exercício da cidadania, principalmente pelos jovens que têm se dado conta da necessidade de terem uma causa reformadora pela qual lutar. Ninguém aguenta mais as ações irresponsáveis e ocultas daqueles que nos representam por força do voto. Sem ser pessimista, mas com uma boa dose de realismo, perderemos mais quatro anos, e depois mais quatro, sejam quem forem os nossos governantes. Enquanto não houver uma reforma ética e moral do cidadão, continuaremos tendo essas pessoas como nossos representantes, pois eles são um recorte da sociedade. Neste sentido, penso que a mudança da sociedade virá apenas com a transformação das nossas ações éticas e morais, fortalecendo as fundações do futuro que queremos para nós e para os nossos filhos.

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