quarta-feira, 26 de novembro de 2014

" Eu, corrupto ! "

Artigo Zero Hora 


0
CLEI MORAES< Analista político >

Em sua essência, alheia ao bem comum, corrupção é obter vantagem. Mas há um engodo arraigado em nossa cultura: corrupção está nos outros, na terceira pessoa, nos políticos. Pois bem, não está! Está em nós.

Nos editoriais de Zero Hora, é possível identificar o repúdio às práticas corruptivas. Em um deles, de 1º de abril (hic!), está taxado que “o país deve se empenhar agora no aperfeiçoamento do regime democrático, começando por uma maior qualificação de seus partidos políticos”.
Não. Não deve. Ele, o país, é consequência de nossas opções coletivas, de um somatório de escolhas individuais, democráticas. Quando geram “benefício”, fazemos concessões a malfeitos em troca de benesses e corroboramos com o “rouba, mas faz”. Não denunciamos, calamos.
Está errado! O combate à corrupção deve começar pela qualificação de nós mesmos, de nosso conceito ético versus “jeitinho brasileiro”. A corrupção está em nós, no silêncio e na retórica que usamos como desculpa ao afirmar que “o sistema é assim”.
Começamos com “pequenas coisas”: não dar nota fiscal ou declarar Imposto de Renda, tentar subornar o guarda, escamotear troco, roubar TV a cabo, furar fila, comprar produtos falsificados ou falsificar assinaturas e tantas outras pequenas corrupções.
Nesse sentido, em 2013, a Controladoria-Geral da União (CGU), iniciou a campanha “Pequenas Corrupções _ Diga Não”, que tem como objetivo conscientizar os cidadãos para a necessidade de combater atitudes antiéticas, culturalmente aceitas e de gravidade ignorada.
A campanha alcançou mais de 10 milhões de usuários nas redes sociais. E daí? Daí, nada. Continuamos achando normal um advogado defender seu cliente corrupto afirmando que “não se faz obra pública no Brasil sem acerto”, como se isso fosse justificativa plausível.
Ações assim não são inéditas. Em 2012, na campanha “O que você tem a ver com a corrupção”, o promotor de Justiça Jairo Cruz Moreira já explicava que “aceitar pequenas corrupções legitima aceitar grandes corrupções”.
Se novas campanhas não nos conscientizarem, ainda seremos os mesmos corruptos de sempre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário