Artigo Zero Hora
JOYCE MIRANDA LEÃO MARTINS
Mestre em Sociologia pela UFC e doutoranda em Ciência Política pela UFRGS
A redemocratização brasileira completará 30 anos em 2015. Nessas décadas, foram vivenciadas importantes transformações no modo de produção da política: 1) A atuação livre da mídia, que transformou a disputa eleitoral e as estratégias dos partidos no sentido de conseguir visibilidade diante do povo, que se torna central na democracia por meio de suas opiniões; 2) A emergência das redes sociais como novo lócus político de disputa, da qual os cidadãos também participam, amenizando a força dos meios de comunicação tradicionais e do próprio campo do poder.
Esse segundo momento, que ocorre hoje e do qual ainda não se sabe o impacto de fato _ em eleições e nas ações dos parlamentares _, possibilita debates em torno da própria definição de democracia: é melhor que permaneça apenas representativa ou mais próxima da democracia direta? Isto é, o país precisa de uma participação mais ativa dos cidadãos ou, ao invés disso, o direito ao voto é suficiente? Entretanto, as discussões no mundo virtual deixam pairar outra dúvida: utilizamos as redes ao nosso favor?
< será que caminhamos para o progresso,ou para o comunismo de Fidel,a pressão venezuelana,e o bolivarianismo...> Hitler chegou???- enquanto todos saúdam... pelos bolsas... ( N.da B.)
A internet tem a vantagem de ser um espaço de atuação sem necessidade de filiação ou participação em agremiações. Serve como palco para a democratização do próprio debate democrático, por ser aberta a diferentes parcelas da população. Como os partidos, já mostrou que tem força de mobilização. Mas, na disputa pela formação da opinião pública, atua sem a obrigação de debates políticos mais profundos, tornando visível recusas à própria democracia, mostrando que o poder que traz àquela também é passível de contestá-la. Nos últimos dias, viu-se imputar à democracia diversos problemas da política brasileira, como se fossem males de origem, surgidos por abiogênese na abertura do país.
Corrupção, desigualdades sociais, falta de educação pública de qualidade: todos na conta da democracia balzaquiana.
Do computador para as ruas, depois da última eleição presidencial, surgiram cartazes proclamando luto e reivindicando que não se escute mais o povo.
Em outras palavras, é como se dissessem: basta de opiniões, não queremos mais, decidimos retroceder. Esses discursos muitas vezes inflamados deixam ver que, depois de 30 anos e com as ferramentas que os brasileiros dispõem, passa da hora de não apenas discutir com seriedade a democracia, mas lembrar o que significa sua ausência.
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