domingo, 25 de janeiro de 2015

" Risco de apagão no Brasil é elevado "

Risco de apagão no Brasil é elevado

Redução no nível dos reservatórios das hidrelétricas e elevação no consumo de energia expõem dificuldades de abastecimento

O Brasil entrou na faixa de risco dos apagões devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas e ao crescente consumo de energia elétrica, provocado pelas temperaturas escaldantes deste verão. Dos 10 maiores blecautes ocorridos no mundo a partir de 1999, dois foram no país – o que evidencia fragilidades no abastecimento de eletricidade. 

Depois do corte que atingiu 6 milhões de pessoas na terça-feira, no Rio Grande do Sul, em mais 12 Estados e no Distrito Federal, é um aviso do esgotamento. O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, diz que a produção de energia supera o consumo – o que é bom. Mas observa que a repetição dos apagões é preocupante, pelo aumento da duração e da frequência. A cada ano, a média é de 300 eventos, com variações entre 100 megawatts (MW) e 1 mil MW. 

– Dois dos 10 maiores blecautes mundiais ocorreram aqui, é uma posição indesejável – lembra Sales. 

 

Os mega-apagões castigaram desde nações ricas, como Estados Unidos e Canadá, até emergentes como Índia e Indonésia. O risco aumentou no Brasil porque o nível dos reservatórios das hidrelétricas – que geram 65% da energia – baixou. 

Como é necessário transmitir grandes cargas das represas da Região Norte para as desfalcadas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a longas distâncias, crescem as possibilidade de acidentes. Para compensar a diminuição das operações nas hidrelétricas, foram acionadas termelétricas. 

No entanto, a substituição encarece o valor da tarifa. O Instituto Acende Brasil calcula que chegou ao teto de R$ 822 megawatts hora (MWh), valor que beira o insustentável economicamente. 

– A hidrelétrica é como uma rosa, mas tem espinhos – compara o presidente da entidade, referindo-se à dependência da chuva. 

Presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim é otimista. Garante que o nível de interrupções decorrentes de eventuais falhas no sistema de transmissão de energia está dentro dos padrões internacionais. Diz que o apagão de terça-feira foi um episódio isolado. 

– Estamos conseguindo manter o abastecimento apesar do pior janeiro em 60 anos em termos de chuva – assegura Tolmasquim. 

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, o governo foi imprudente ao não prever que, no verão, sobe o consumo. Diz que incentivou a população a comprar TV, geladeira e ar-condicionado, mas não se programou para gerar e conservar a energia. 

– Não estão sabendo gerenciar as fontes de água, que também são usadas para abastecer cidades e irrigar lavouras – afirma Pires. 

A solução é ampliar a rede de energia. Especialista no setor da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Tatiana Lauria destaca que é preciso diversificar a geração. Sugere um planejamento que inclua o emprego de carvão, usinas de acumulação e até as nucleares, as últimas para o futuro e com segurança operacional. 

Ameaças e gastos

O risco de déficit de energia subiu de 18% (no ano passado) para 20%. O aceitável seria um patamar de 5%. 

Na média, as hidrelétricas estão apenas com 39,2% da capacidade de seus reservatários ocupadas por água, e a velocidade de redução dobrou de 0,2 ponto percentual ao dia para 0,4 ponto percentual diário. 

O uso de termelétricas fez com que o custo da energia no mercado livre chegasse a R$ 822 por megawatt hora. 

Em janeiro, a demanda por energia subiu 11,8% em relação ao primeiro mês de 2013, segundo o ONS por "uso intensivo de aparelhos de refrigeração no Subsistema Sul e Sudeste/Centro-Oeste".

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