Artigo Zero Hora
ENIO LEITE CASAGRANDE
Cardiologista, coordenador do Serviço de Checkup do Hospital Moinhos de Vento
Cardiologista, coordenador do Serviço de Checkup do Hospital Moinhos de Vento
Há alguns anos, atendi um cidadão de 60 anos, fumante pesado, 40 a 60 cigarros por dia.
Foi taxativo: eu quero acabar com isso antes que isso acabe comigo!
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Chamou-me atenção a determinação daquele homem. Os melhores resultados do tratamento antifumo oscilam em torno de 35% de abstinência em um ano e era o que eu poderia oferecer-lhe. Caberia a ele arcar com os outros 65%. A ajuda dos familiares e amigos é fundamental. A escolha da data é relevante e ele já havia definido: decidira presentear-se no Natal.
Expliquei as etapas do tratamento, os gatilhos (hábitos que suscitam o desejo de fumar: cafezinho, chope, ligar a TV etc.), a síndrome de abstinência _ irritabilidade, mau humor e uma vontade incontrolável de fumar, e a “fissura” que consiste em mandar tudo às favas e agarrar-se ao cigarro mais próximo. 

Uma dieta saudável e exercícios físicos melhoram a disposição, ajudam na superação da abstinência, no controle do peso e na prevenção da depressão. Ele ouviu atentamente e concordou: enfrentaria o desafio. Iniciou o tratamento, e parou de fumar no Natal.
No dia 31 de dezembro me ligou tomado por uma terrível crise de abstinência que o estava levando à fissura.
Recomendei que usasse os tabletes de nicotina (cada um equivale a quatro cigarros). Na consulta seguinte, contou-me que se pusera a cheirar desesperadamente um cigarro, com o sentimento de que estivesse se despedindo de um ente querido.
O tratamento prosseguiu, ele conseguiu lidar com os seus tormentos. Foi uma árdua travessia, e ao cabo de 12 semanas já não fumava. Chegara ao seu destino, conquistara a duras penas o troféu: estava livre do fumo.
Após seis meses, teve síndrome de abstinência. Novo tratamento, a crise foi debelada e abrandaram-se as turbulências. Vários verões depois, recebi um telefonema na praia. Voz alegre, meu paciente lembrou-me: neste verão completam-se 10 anos que parei de fumar e me tornei um cara saudável!
Este relato _ de uma situação real _ é também uma reflexão sobre os principais aspectos do tratamento antitabágico e as dificuldades e armadilhas da dependência de nicotina. Determinação e participação ativa do paciente, família e amigos fazem a diferença.
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