Num mundo repleto de distrações digitais, emocionais e de carne e osso, superá-las é fundamental para fazer qualquer coisa. Por que é importante redescobrir
a importância da concentração
Mal começa o ano e tomamos as resoluções de vida nova. Ir à academia, estudar mais, comer direito. A disposição para se tornar uma pessoa melhor e mais disciplinada é infinita nessa época do ano. E a frustração quando quebramos a promessa logo nas primeiras semanas também. O que muitas vezes não percebemos é que para cumprir qualquer resolução de Ano-Novo é preciso uma característica básica: concentração. Sem ela, a preguiça vence a obrigação da ginástica. A internet se torna uma tentação na hora de estudar e o bolo de chocolate acaba com a dieta em segundos. Sem atenção e persistência, dificilmente se atinge qualquer objetivo.
Essa é a teoria do psicólogo americano Daniel Goleman. Em seu novo livro, Foco (Objetiva, 294 páginas, R$ 39,90), que chega em janeiro às livrarias brasileiras, ele discorre sobre os benefícios que a atenção concentrada traz. Para ele, a melhor promessa que alguém pode fazer no final do ano é ter foco, e apenas isso.
Essa é a teoria do psicólogo americano Daniel Goleman. Em seu novo livro, Foco (Objetiva, 294 páginas, R$ 39,90), que chega em janeiro às livrarias brasileiras, ele discorre sobre os benefícios que a atenção concentrada traz. Para ele, a melhor promessa que alguém pode fazer no final do ano é ter foco, e apenas isso.
Quando se trata de emoções e de como elas nos afetam, Goleman está acostumado a perceber o que ninguém repara. Ele foi um dos primeiros autores a afirmar que a inteligência não é o suficiente para nos tornar felizes e bem-sucedidos. Essa é a tese defendida por ele em seu primeiro livro, o best-seller Inteligência emocional, lançado no começo dos anos 1990. Goleman popularizou a teoria de que o controle das emoções é tão fundamental quanto uma boa formação acadêmica e um raciocínio lógico afiado. O livro vendeu mais de 5 milhões de cópias pelo mundo todo e foi traduzido para 30 idiomas.
No começo dos anos 1990, quando Inteligência emocional foi lançado, a maioria das empresas ignorava as características pessoais dos candidatos a uma vaga de trabalho. Testes de raciocínio repletos de perguntas obscuras estavam na moda e as pessoas eram obcecadas pelo quociente de inteligência (Q.I.). O livro de Goleman causou mudanças significativas. Hoje, qualquer funcionário é submetido a testes que avaliam a personalidade. E não é preciso ser psicólogo para saber que o comportamento e as características emocionais são tão importantes quanto um bom currículo. Por mais que tenha uma ótima formação, um funcionário autoritário ou egoísta demais não trará bons resultados.
Foco também é lançado num momento oportuno. A possibilidade de estarmos conectados o tempo todo com nossos smartphones e tablets tem nos tornado mais dispersivos. Pare para pensar: quantas vezes você olhou para seu celular na última conversa que teve com um amigo? E quantas vezes parou o que estava fazendo no trabalho para checar o que acontece nas redes sociais?
No começo dos anos 1990, quando Inteligência emocional foi lançado, a maioria das empresas ignorava as características pessoais dos candidatos a uma vaga de trabalho. Testes de raciocínio repletos de perguntas obscuras estavam na moda e as pessoas eram obcecadas pelo quociente de inteligência (Q.I.). O livro de Goleman causou mudanças significativas. Hoje, qualquer funcionário é submetido a testes que avaliam a personalidade. E não é preciso ser psicólogo para saber que o comportamento e as características emocionais são tão importantes quanto um bom currículo. Por mais que tenha uma ótima formação, um funcionário autoritário ou egoísta demais não trará bons resultados.
Foco também é lançado num momento oportuno. A possibilidade de estarmos conectados o tempo todo com nossos smartphones e tablets tem nos tornado mais dispersivos. Pare para pensar: quantas vezes você olhou para seu celular na última conversa que teve com um amigo? E quantas vezes parou o que estava fazendo no trabalho para checar o que acontece nas redes sociais?
Para Goleman, esse comportamento é preocupante. “Hoje, todos nós, não apenas os jovens, nos sentimos invadidos por tecnologias digitais, por smartphones e e-mails”, disse Goleman a ÉPOCA. “Todos esses recursos degradam nossa capacidade de concentração.” Goleman afirma que a capacidade de manter a concentração é, nos tempos distraídos em que vivemos, tão importante quanto a inteligência emocional. Não cumprir promessas de Ano-Novo é apenas uma – e talvez a menor – das consequências que a falta de concentração nos traz. A desatenção é o cerne de problemas graves como a falta de autocontrole, insensibilidade e falta de força de vontade. Sem foco não se mantém a dieta, nem uma amizade ou um casamento. Até a escolha entre reciclar ou não o lixo está relacionada à falta de foco. Uma pessoa focada, segundo Goleman, tem consciência de que seus atos impactam o mundo todo.
Em sua tese, o autor afirma que existem três tipos de foco. O primeiro é o foco interno. Esse tipo de atenção nos permite entender – e controlar – nossos sentimentos e emoções. O segundo é o foco nos outros, que é o que nos faz ouvir o que as outras pessoas dizem e ter a capacidade de nos colocar no lugar delas, compreendendo o que estão sentindo. Essa empatia, que só é alcançada por meio da atenção no outro, é que nos leva a ter sentimentos nobres como a compaixão. O terceiro tipo de foco é a atenção que devemos dar ao que acontece a nossa volta e como nossas atitudes impactam o resto do mundo. Esse tipo de atenção gera consciência social e sensibilidade aos problemas que afetam o mundo todo, como o aquecimento global e a fome. Apesar de serem diferentes, esses três tipos de foco estão relacionados, e as técnicas para desenvolvê-los são semelhantes. “Quem não consegue prestar atenção nas próprias emoções dificilmente compreenderá os sentimentos de outra pessoa e muito menos se sensibilizará com os problemas do mundo”, diz.
Cada um de nós tem uma infinidade de razões para perder a concentração. Goleman divide as distrações em dois tipos: a sensorial e a emocional. A primeira diz respeito aos sons, sabores, cheiros e sensações que nos roubam a atenção enquanto fazemos algo. Um trabalho pode ser subitamente interrompido por um cheiro de comida ou por uma música muito alta. A distração emocional é aquela que vem de dentro de nós. O fim de um relacionamento ou a perda de uma pessoa próxima são suficientes para tirar qualquer pessoa concentrada do prumo. O bombardeio de informações a que somos submetidos por meio de redes sociais e pela internet também contribui para a falta de atenção. Checar notícias e o que os amigos publicam nas redes sociais é quase um vício para muitas pessoas. Com tantos acontecimentos a nosso redor e no mundo virtual, manter a atenção num relatório, num trabalho da faculdade ou nos próprios sentimentos é cada vez mais difícil.
As distrações existem para todos nós, mas prestar atenção numa planilha complicada ou manter-se acordado numa aula de faculdade parece ser mais fácil para algumas pessoas. Isso se explica porque uma parte da habilidade de concentração é genética. Filhos de pais com alto grau de atenção têm mais chances de nascer com a mesma característica. Mesmo assim, construir essa habilidade depende em grande parte de nossas experiências. A epigenética, ciência que estuda como o ambiente pode interferir em nossas características genéticas, afirma que herdar um aspecto do comportamento dos pais não é o suficiente para que ele se desenvolva. Se os genes nunca são acionados, é como se não existissem. Para os geneticamente distraídos, ainda há salvação. Com esforço, a atenção pode ser treinada e aprendida, mesmo se a genética não colaborar.
Em sua tese, o autor afirma que existem três tipos de foco. O primeiro é o foco interno. Esse tipo de atenção nos permite entender – e controlar – nossos sentimentos e emoções. O segundo é o foco nos outros, que é o que nos faz ouvir o que as outras pessoas dizem e ter a capacidade de nos colocar no lugar delas, compreendendo o que estão sentindo. Essa empatia, que só é alcançada por meio da atenção no outro, é que nos leva a ter sentimentos nobres como a compaixão. O terceiro tipo de foco é a atenção que devemos dar ao que acontece a nossa volta e como nossas atitudes impactam o resto do mundo. Esse tipo de atenção gera consciência social e sensibilidade aos problemas que afetam o mundo todo, como o aquecimento global e a fome. Apesar de serem diferentes, esses três tipos de foco estão relacionados, e as técnicas para desenvolvê-los são semelhantes. “Quem não consegue prestar atenção nas próprias emoções dificilmente compreenderá os sentimentos de outra pessoa e muito menos se sensibilizará com os problemas do mundo”, diz.
Cada um de nós tem uma infinidade de razões para perder a concentração. Goleman divide as distrações em dois tipos: a sensorial e a emocional. A primeira diz respeito aos sons, sabores, cheiros e sensações que nos roubam a atenção enquanto fazemos algo. Um trabalho pode ser subitamente interrompido por um cheiro de comida ou por uma música muito alta. A distração emocional é aquela que vem de dentro de nós. O fim de um relacionamento ou a perda de uma pessoa próxima são suficientes para tirar qualquer pessoa concentrada do prumo. O bombardeio de informações a que somos submetidos por meio de redes sociais e pela internet também contribui para a falta de atenção. Checar notícias e o que os amigos publicam nas redes sociais é quase um vício para muitas pessoas. Com tantos acontecimentos a nosso redor e no mundo virtual, manter a atenção num relatório, num trabalho da faculdade ou nos próprios sentimentos é cada vez mais difícil.
As distrações existem para todos nós, mas prestar atenção numa planilha complicada ou manter-se acordado numa aula de faculdade parece ser mais fácil para algumas pessoas. Isso se explica porque uma parte da habilidade de concentração é genética. Filhos de pais com alto grau de atenção têm mais chances de nascer com a mesma característica. Mesmo assim, construir essa habilidade depende em grande parte de nossas experiências. A epigenética, ciência que estuda como o ambiente pode interferir em nossas características genéticas, afirma que herdar um aspecto do comportamento dos pais não é o suficiente para que ele se desenvolva. Se os genes nunca são acionados, é como se não existissem. Para os geneticamente distraídos, ainda há salvação. Com esforço, a atenção pode ser treinada e aprendida, mesmo se a genética não colaborar.
A capacidade de concentrar-se em algo por vontade própria, ignorando distrações e controlando impulsos, surge aos 3 anos de idade e pode ter uma grande influência no sucesso profissional. Num estudo feito na Nova Zelândia, 1.037 crianças foram avaliadas para medir sua tolerância a frustração, impaciência, poder de concentração e persistência. Duas décadas depois, os pesquisadores voltaram a procurá-las para saber como estavam. Quanto melhor era a atenção e o autocontrole na infância, mais bem-sucedido e saudável era o adulto. O autocontrole se mostrou um fator mais importante para o sucesso do que o quociente de inteligência ou até mesmo a classe social da família de origem.
Por ser tão importante, a capacidade de concentração deve ser ensinada e estimulada desde os primeiros anos de vida. Algumas escolas já adotam programas de aprendizagem emocional e social. Nos Estados Unidos, uma análise comparou mais de 200 escolas que adotam programas de aprendizagem social e emocional com colégios do mesmo nível, mas sem esses programas. Os resultados: a bagunça e o mau comportamento eram 10% inferiores nas escolas que ensinam técnicas de atenção e controle de emoções. A assiduidade e outros comportamentos positivos são 10% maiores. E notas em testes são 11% mais altas.
Alguns exercícios usados nessas escolas são simples e eficazes e podem ser adotados em casa também. Numa escola em Nova York, os alunos são submetidos a um exercício de respiração uma vez ao dia. Todos deitam no chão e seguem as instruções de uma voz amistosa que os guia por exercícios de respiração abdominal profunda. “Isso ajuda o aluno a relaxar e a manter o foco. Quando não fazemos o exercício, a turma parece outra. Ficam muito mais agitados e é mais difícil controlá-los”, afirma uma das professoras do colégio, Emily Hoaldrige.
Nossas emoções são em boa parte controladas por nossa atenção. “É por isso que, quando um bebê chora, imediatamente mudamos o foco de sua atenção com um brinquedo ou outra coisa qualquer”, afirma Goleman. “Desviar a atenção do que o faz chorar é uma maneira de controlar essa emoção.” É por isso que os exercícios de respiração são eficientes. Eles nos acalmam e permitem que deixemos de pensar naquilo que nos incomoda. Quando nos concentramos em nossa respiração, automaticamente esvaziamos nossa mente dos problemas que nos causam sofrimento. Com a mente tranquila, crianças e adultos conseguem focar no que é preciso.
Parece contraditório, mas uma técnica fundamental para manter a concentração é saber mudar o foco na hora certa. Num estudo clássico realizado pelo psicólogo Walter Mischel na Universidade Stanford, na década de 1970, crianças de 4 anos foram colocadas sozinhas numa sala com um marshmallow. O pesquisador dava duas alternativas: comer o doce na hora ou esperar 15 minutos e ganhar duas guloseimas. De todas as crianças que participaram, apenas um terço conseguiu resistir à tentação de atacar o marshmallow. O resultado mostrou que as que conseguiram o feito usaram artimanhas para não prestar atenção ao doce, como cantar ou cobrir os olhos. As que ficaram com a atenção focada no marshmallow dificilmente conseguiram se controlar.
Nesse caso, mudar o foco ajudou as crianças a ter autocontrole. Conseguir mudar o foco quando nos convém é uma questão de treino e persistência. O importante é saber identificar situações em que essa estratégia pode nos ajudar. A tática usada intuitivamente pelas crianças é a mesma que precisamos colocar em prática para não sucumbir ao bolo de chocolate durante a dieta ou para resistir à tentação de parar o que estamos fazendo no trabalho e checar o que os amigos estão publicando nas redes sociais.
Essas técnicas usadas com crianças também servem para os adultos. Eles também podem tentar outras táticas. Uma delas é treinar a consciência de que a concentração foi perdida. Parece um exercício banal, mas muitos de nós só nos damos conta de que não estamos concentrados no que deveríamos depois de minutos ou horas de devaneio. Quanto mais tempo nossa mente divaga durante uma atividade que exige concentração, mais difícil é retornar ao que estava sendo feito. O exercício para combater a fuga de atenção é simples: assim que perceber que o foco foi perdido, traga-o de volta. Faça isso quantas vezes forem necessárias. A atenção equivale a um músculo mental que podemos fortalecer por meio de exercícios como esse. Quando mais se faz, mais forte o músculo fica.
Por ser tão importante, a capacidade de concentração deve ser ensinada e estimulada desde os primeiros anos de vida. Algumas escolas já adotam programas de aprendizagem emocional e social. Nos Estados Unidos, uma análise comparou mais de 200 escolas que adotam programas de aprendizagem social e emocional com colégios do mesmo nível, mas sem esses programas. Os resultados: a bagunça e o mau comportamento eram 10% inferiores nas escolas que ensinam técnicas de atenção e controle de emoções. A assiduidade e outros comportamentos positivos são 10% maiores. E notas em testes são 11% mais altas.
Alguns exercícios usados nessas escolas são simples e eficazes e podem ser adotados em casa também. Numa escola em Nova York, os alunos são submetidos a um exercício de respiração uma vez ao dia. Todos deitam no chão e seguem as instruções de uma voz amistosa que os guia por exercícios de respiração abdominal profunda. “Isso ajuda o aluno a relaxar e a manter o foco. Quando não fazemos o exercício, a turma parece outra. Ficam muito mais agitados e é mais difícil controlá-los”, afirma uma das professoras do colégio, Emily Hoaldrige.
Nossas emoções são em boa parte controladas por nossa atenção. “É por isso que, quando um bebê chora, imediatamente mudamos o foco de sua atenção com um brinquedo ou outra coisa qualquer”, afirma Goleman. “Desviar a atenção do que o faz chorar é uma maneira de controlar essa emoção.” É por isso que os exercícios de respiração são eficientes. Eles nos acalmam e permitem que deixemos de pensar naquilo que nos incomoda. Quando nos concentramos em nossa respiração, automaticamente esvaziamos nossa mente dos problemas que nos causam sofrimento. Com a mente tranquila, crianças e adultos conseguem focar no que é preciso.
Parece contraditório, mas uma técnica fundamental para manter a concentração é saber mudar o foco na hora certa. Num estudo clássico realizado pelo psicólogo Walter Mischel na Universidade Stanford, na década de 1970, crianças de 4 anos foram colocadas sozinhas numa sala com um marshmallow. O pesquisador dava duas alternativas: comer o doce na hora ou esperar 15 minutos e ganhar duas guloseimas. De todas as crianças que participaram, apenas um terço conseguiu resistir à tentação de atacar o marshmallow. O resultado mostrou que as que conseguiram o feito usaram artimanhas para não prestar atenção ao doce, como cantar ou cobrir os olhos. As que ficaram com a atenção focada no marshmallow dificilmente conseguiram se controlar.
Nesse caso, mudar o foco ajudou as crianças a ter autocontrole. Conseguir mudar o foco quando nos convém é uma questão de treino e persistência. O importante é saber identificar situações em que essa estratégia pode nos ajudar. A tática usada intuitivamente pelas crianças é a mesma que precisamos colocar em prática para não sucumbir ao bolo de chocolate durante a dieta ou para resistir à tentação de parar o que estamos fazendo no trabalho e checar o que os amigos estão publicando nas redes sociais.
Essas técnicas usadas com crianças também servem para os adultos. Eles também podem tentar outras táticas. Uma delas é treinar a consciência de que a concentração foi perdida. Parece um exercício banal, mas muitos de nós só nos damos conta de que não estamos concentrados no que deveríamos depois de minutos ou horas de devaneio. Quanto mais tempo nossa mente divaga durante uma atividade que exige concentração, mais difícil é retornar ao que estava sendo feito. O exercício para combater a fuga de atenção é simples: assim que perceber que o foco foi perdido, traga-o de volta. Faça isso quantas vezes forem necessárias. A atenção equivale a um músculo mental que podemos fortalecer por meio de exercícios como esse. Quando mais se faz, mais forte o músculo fica.
Outra maneira de treinar a atenção para vencer as distrações é se concentrar nas pequenas tarefas do dia a dia, que costumamos fazer no piloto automático. Quando for lavar a louça, por exemplo, fique atento em como a água cai sobre a sua mão, nos movimentos que faz com a esponja e na espuma que escorre pelo ralo. É uma maneira de treinar a atenção para o aqui e agora, evitando a divagação. Quando adotamos esse comportamento em momentos banais, sem pressão e sem grandes distrações, ele naturalmente se repete nas situações mais complexas, em que manter o foco teoricamente seria mais difícil – e mais recompensador.
No ambiente profissional, é importante ter em mente que é muito mais fácil ter concentração quando fazemos um trabalho que consideramos estimulante. Não é o que costuma acontecer. Pesquisas em empresas revelam que um grande número de pessoas se encontra num estado de atenção muito longe do ideal durante a jornada de trabalho. Um estudo conduzido pelas universidades Harvard, Stanford e Claremont constatou que na maior parte do tempo os profissionais estão estressados ou entediados. Apenas 20% das pessoas analisadas demonstraram momentos de satisfação plena no trabalho. O restante costuma passar tempo demais na internet ou pensando em outras coisas que não estão relacionadas às tarefas que precisam ser feitas.
As pessoas que gostam do que fazem sentem mais facilidade para manter a atenção. O ideal seria aproximar o trabalho de algo que proporcione prazer. Como nem sempre isso é possível, manter a motivação e encontrar um propósito para o que se faz pode ser uma saída para evitar o tédio e a consequente falta de atenção.
Outro ponto defendido por Goleman é que para manter a mente concentrada é preciso descalçá-la. Ou seja, para ter foco, é preciso perdê-lo por algum tempo, de vez em quando. Parece contraditório, mas exames cerebrais recentes revelaram que durante a divagação da mente duas regiões do cérebro se ativam. Com frequência, a nossa mente divaga para nossas preocupações e questões não resolvidas – coisas em que precisamos pensar mais. Embora a divagação da mente possa prejudicar nossa concentração imediata em alguma tarefa específica, ela funciona para resolver problemas importantes para nossa vida. Uma mente vagando permite que a criatividade flua. Além disso, existem outras funções positivas em deixar a mente divagar: autorreflexão, ponderação do que está sendo aprendido, organização das lembranças, ou a mera meditação sobre a vida. Mas os benefícios da falta de atenção não a tornam menos prejudicial. “Falta de foco nunca é bom”, afirma Renata Di Nizo, autora do livro Foco e criatividade. “Mesmo para desenvolver um trabalho criativo é preciso estar compenetrado.”
O segredo é saber quando a mente pode divagar. Durante um trabalho com prazo para ser cumprido ou enquanto um amigo desabafa sobre um problema pessoal, deixar a mente ir para onde quiser é uma péssima ideia. O ideal é deixar os momentos de divagação para as horas de relaxamento, como um passeio pelo parque ou o tempo que passamos assistindo a programas sem importância na televisão
Todas essas técnicas e exercícios ajudam a desenvolver a atenção concentrada. É por meio dela que alcançamos o autocontrole, a sensibilidade de ouvir o que os outros nos dizem e de nos colocarmos em seu lugar. Sem foco, não há trabalho, dieta ou relacionamento que vá para a frente. Se seguirmos o conselho de Goleman e concentrarmos nossas energias apenas em desenvolver nosso foco em 2014, é muito mais provável que consigamos manter a dieta, ir à academia e trabalhar melhor. Com a concentração afiada, nos restarão pouquíssimas promessas para 2015.
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REPORTAGEM POR NATÁLIA SPINACÉ
FONTE: http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2014/01/como-nao-bperder-o-focob.html
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