SBT também é responsável pelo comentário em apoio ao grupo que amarrou um jovem nu ao poste
Por ter sido um dos primeiros a tratar, em meu blog no UOL, do comentário de Rachel Sheherazade sobre o "marginalzinho amarrado ao poste" por um grupo de "vingadores", acabei ouvindo uma crítica recorrente.
Fui "acusado", por diversos leitores, de ter dado espaço e relevância a uma personagem de menor importância. O raciocínio, aparentemente lógico, leva em conta os baixos índices de audiência do telejornal que ela apresenta e a relativa relevância do jornalismo da emissora de Silvio Santos.
Mas esta crítica ignora o aspecto, na minha opinião, mais grave do episódio. Já no título da nota em que falei do assunto ("SBT divulga mensagem de apoio a grupo que amarrou homem nu em poste") procurei sublinhar o que entendi como o tema principal.
Sheherazade difundiu sua mensagem ("Num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível") numa rede de TV aberta, uma concessão pública, sem que a emissora tenha oferecido qualquer contraponto a ela.
É uma opinião dela? Sim. Ela é a âncora do telejornal? Sim. Ela pode falar o que quiser? Tudo que o SBT considerar aceitável.
Ao justificar uma ação criminosa, do seu púlpito, a apresentadora contou com o endosso (silencioso) da emissora que a colocou no lugar em que está.
Lamento se, ao tentar chamar a atenção sobre a responsabilidade (ou irresponsabilidade) do SBT no episódio, eu tenha ajudado uma figura que muitos consideram não merecer os holofotes. Faz parte.
Woody Allen e BBB'
Muita gente torce o nariz para programas como o "Big Brother Brasil" sem entender, de fato, qual é o fascínio que ele exerce. A recente discussão pública entre Mia e Dylan Farrow, de um lado, e Woody Allen e Moses Farrow, do outro, pode ajudar a explicar.
A chance de espiar o outro, o voyeurismo, é um dos atrativos do "BBB", mas não o principal. O que ele oferece de "melhor" é a possibilidade de ser juiz da moral e do caráter alheio. Da poltrona, assistindo às conversas, às trapaças e aos conluios entre os participantes, vamos formando opiniões "sólidas" sobre pessoas que não conhecemos.
Para quem assiste ao programa, a grande questão, no fundo, é conseguir determinar quem está sendo "falso" e quem é "verdadeiro" dentro da casa onde se passa o programa. "A máscara caiu", repete-se sempre que algum comentário ou gesto permite inferir que algum participante foi "fake".
Ao tornarem público um drama de natureza privada, ainda que com alcance policial e jurídico, os personagens do caso Farrow-Allen convidaram os espectadores a participar do julgamento. Iniciada no Twitter, no dia do Globo de Ouro, e depois levada às páginas do "New York Times", a lavagem de roupa suja teve audiência mundial.
Assim como no "BBB", o que mobilizou muita gente nas redes sociais e nos comentários de notícias não foi o prazer de ver figuras famosas brigando em público, mas a chance de julgar os envolvidos.
A facilidade com que muita gente chegou a um veredicto, condenando ou inocentando o cineasta da acusação de ter molestado uma menina de sete anos, lembra muito a decisão de quem vota num paredão do "BBB".
mauriciostycer@uol.com.br
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