quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

" A Banalidade da Corrupção "

Artigo Zero H0ra


GUILHERME SOCIAS VILLELA
Economista, ex-prefeito de Porto Alegre
 
Tinha sido um dia cheio. Na saída do seu trabalho, vira automóveis atravessando sinais vermelhos de trânsito. Alguns ocupando passagens destinadas a pedestres. Quase todos deixando de acionar luzes indicadoras de mudança de direção (pisca-piscas).

 Nos estacionamentos de shoppings, automóveis ocupando indevidamente vagas destinadas a deficientes físicos ou a idosos.  Alguns passando rapidamente na frente de quem bem antes estava manobrando para estacionar numa vaga. Vira também, nas ruas, motoristas jogando baganas de cigarros, pacotes e restos de lixo pelas janelas dos veículos.

Estava cansado. Seus principais problemas eram sempre recorrentes.
Era hora de dormir.

Passara uma noite de sobressaltos. Sonhara. E em seus devaneios misturara-se todo aquele quadro de dramas urbano. O de um homem de família de classe média enfrentando o início ano: impostos, despesas escolares; e aumento dos preços das mercadorias nas gôndolas dos supermercados. Jovem, estranhara o aparecimento da inflação que lhe falavam seus pais. Um fenômeno novo para sua geração.

Amanhecera perplexo. Contudo, como era fim de semana, iria para o Litoral.  Lá estava sua família: a praia, o sol, as caipirinhas, os churrascos e algazarra de seus melhores amigos (o prato principal era quase sempre os jogos futebol).
Enquanto isso, muitas coisas vinham ocorrendo no país: o Mensalão _ pagamento de uma mesada para congressistas que votassem a favor de projetos do governo; financiamentos estatais oficiais facilitados e dirigidos (no país e no exterior); clubes dos empreiteiros e de consultorias (também conhecidos como entidades detentoras do poder do “Brasil real”); lideranças sindicais fisiológicas; e o gigantesco e o inimaginável Petrolão _ responsável pela bancarrota da Petrobras.

Mas nada disso o sensibilizava. Tudo parecia longe das questões referentes ao seu dia-a-dia.
A banalidade da corrupção já pertencia ao cotidiano do Brasil.
             Pobre país!

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