sábado, 21 de fevereiro de 2015

" Venezuela e a Maldição do Petróleo "

Artigo Zero Hora


LÉO GERCHMANN
Jornalista, repórter especial de ZH
leo.gerchmann@zerohora.com.br
O petróleo move o mundo. Ops, leitor, antes que você se irrite e vá embora, saiba que recorro conscientemente a um clichê. Renato Russo me redime do opróbrio. “Quais são as palavras que nunca são ditas?”,

 cantava ele. Os clichês existem por repetir verdades. 

Sobre petróleo: os carros têm marchas que vão para a frente, mas também têm a ré. E é essa marcha que a Venezuela experimenta. Move-se para trás, a gasolina.

O governo venezuelano, vendo a popularidade do presidente chavista Nicolás Maduro cair proporcionalmente à queda do preço do petróleo _ principal commodity local _, intensificou um processo truculento de caça a opositores, chegando a prender esta semana o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e fechou o cerco a empresários, acusando-os de boicotes e especulações. 

Ocupou supermercados num conflito que vem crescendo também proporcionalmente à crise. Com economia cujo desabastecimento supera um terço da cesta básica e inflação anual de 64%, a Venezuela depende do petróleo, responsável por 96% das suas divisas. O país carece de diversificação e pouco fez para modificar esse contexto. Maduro encostou nos 20% de aprovação.

Aí, você me pergunta: e o mundo com isso? E eu exemplifico: desprovida do apoio camarada venezuelano, Cuba se moveu para o Norte, onde prospera o inimigo americano. Sim, a Venezuela está por trás do histórico reatamento entre os Castro e o Tio Sam, e esse episódio mexe no perfil ideológico mundial. Vou mais longe _ ou, geograficamente, mais perto. O governo argentino, antigo beneficiário do ouro negro venezuelano, foi acusado por um procurador de acobertar a participação iraniana em atentado terrorista. O procurador morreu misteriosamente. Sendo verdadeiras as acusações, tal acobertamento teria ocorrido em troca de quê? Ora…

A Venezuela, aliás, andou conversando com o Irã para reduzir a produção do petróleo e, assim, aumentar o preço. Hugo Chávez se dizia “irmão ideológico” do iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o sujeito que negava o Holocausto e perseguia homossexuais. Por quê? Por ambos serem antiamericanos e produzirem petróleo. Arrisco-me a dizer que o apoio da esquerda a países de corte obscurantista se deve a esses dois fatores, desde Josef Stalin.

Fim de espaço. Como fechá-lo? Já sei: dia chegará em que fontes renováveis substituirão o petróleo. Nesse dia, o mundo respirará melhor. Em todos os sentidos. E pra frente.

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