quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

" Impressiona-nos bicheiros,máfias,e o carnaval " ou não seria o BRASIL !!!

Opinião

Moisés Mendes: 


as diferenças entre as máfias de bicheiros e empreiteiros

Os bicheiros tinham o glamour do compromisso com a arte do Carnaval e com a genialidade de Joãosinho Trinta

18/02/2015 | 04h02
Os empreiteiros que saqueavam a Petrobras são a face mais desprezível das máfias brasileiras. Chega a dar saudade da máfia romântica dos bicheiros que reinaram até o final dos anos 90.

Os bicheiros também corrompiam. Mas sem eles os desfiles de Carnaval não teriam alcançado a grandiosidade de espetáculo internacional.

Sem os bicheiros não existiria Joãosinho Trinta, o gênio brasileiro do fim do século 20. Confrontados com a máfia das empreiteiras, os bicheiros dos bons tempos eram apenas contraventores que sonegavam impostos e direitos trabalhistas.

Dois deles brilharam intensamente. Castor de Andrade, da Mocidade Independente, grande amigo dos militares, que morreu em 1997. E Aniz Abraão David, o Anísio da Beija-Flor, que fazia festas com Roberto Carlos e ainda está por aí, mas já sem força. 

Sem Castor e sem Anísio, as escolas não teriam luxo, estrelas das novelas, modelos, ricaços, quase celebridades, jogadores de futebol e penetras do mundo todo.

Até que um dia a juíza Denise Frossard decidiu caçá-los e acabar com a estrutura do Jogo do Bicho no Rio. Logo depois, morreu Castor. 

O poder do jogo se fracionou, a chinelagem miúda tomou o mercado e trocou o Bicho pelas máquinas caça-níqueis e pelo tráfico. A matança entre eles e as mudanças de hábitos dos apostadores apressaram o fim. Com o jogo legalizado, a Caixa tomou o lugar dos bicheiros.

Foi-se uma era de ouro em que a pilantragem ainda tinha algum lirismo. Os bicheiros seduziam artistas, protegiam comunidades, cortejavam governos, patrocinavam eventos culturais. Eram os mafiosos com a cara do Brasil, simpáticos, saídos do povo, mecenas de todas as artes.

Os empreiteiros presos não serviriam para limpar as sandálias de Castor de Andrade. Os mafiosos da Petrobras, que prosperaram desde a ditadura, passando impunemente por todos os governos, até o flagrante da Lava-Jato, nos provocam a sensação de que é possível ter, sem culpa, alguma empatia com os velhos bicheiros.

Os empreiteiros são tão fracos até como mafiosos que não se sabe de nada que tenham feito de bom com o que roubaram da Petrobras. A Justiça deve ser implacável com todos eles. Mafioso que nunca fez nada pela arte deve ter a pena superfaturada por mediocridade dolosa.

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