Por JJ.Camargo
O convite tinha sido reiterado com a insistência naquele limite que torna impossível a recusa. E assim empolgado, ocupei um assento na bancada de um programa de TV para discutir criação de filhos e, só soube então, com três mães supergraduadas.
O trio exercitou o incrível talento de todas falarem ao mesmo tempo, sem perder a conexão com o que cada uma delas tinha dito, habilidade que, reconhecidamente, é um humilhante atributo feminino. Quietinho no meu canto, aprendi muito, invejei outro tanto.
Quando o programa se aproximava do final, a coordenadora percebeu que eu, além de não ter morrido, ainda continuava ali, e provavelmente considerando que tamanha persistência merecia algum crédito, concedeu: "Meu doutor, desculpe, mas o senhor sabe como são os horários da TV, nós estamos com nosso tempo quase esgotado, mas gostaríamos que, resumidamente, nos dissesse o que considera mais importante na educação dos filhos".
Pressionado para ser conciso, simplifiquei: "Se tivesse que sintetizar, diria que a coisa mais importante é ensiná-los a gostar de massagem desde pequenos".
A coordenadora me fulminou com aquele olhar: "E isso é coisa que se diga a segundos do final do programa, sem tempo para destrinchar essa ideia maluca?". Juro que foi isso que ela pensou, e só não verbalizou por educação. E o programa foi encerrado, porque não se brinca com tempo de TV!
Por acreditar piamente naquilo, festejo a oportunidade de explicar as minhas crenças neste resto de crônica, já que não parece provável a continuação daquele episódio, nem se cogita uma segunda temporada. A convicção se baseia no ritual da massagem e tudo o que ele envolve de proximidade, contato físico e calor, que são exercícios mecânicos, mas escancaram portas definitivas para afeto, intimidade, respeito e cumplicidade, esses ingredientes emocionais indispensáveis para a construção de uma relação amorosa indestrutível. Ou alguém imagina que um filho acarinhado assim desde bebê possa trair os pais amorosos, adiante na vida? Nem pensar.
Aquelas costinhas macias que ainda ontem couberam na palma de uma mão grande duram pouco, as crias crescem, de repente começam a dar palpite sobre locais preferenciais e intensidade da compressão, e então chega o dia em que eles descobrem quem os massageie melhor do que nós, e ficamos um tempo com as pontas dos dedos carentes. Por sorte, o ostracismo dura pouco, porque logo chegam os netos e o ritual recomeça, num circulo airoso destinado a aquecer a velhice.
O José Eduardo tem seis anos e, massageado desde o berço, não pode ver o vô deitado no sofá que já vem de almofada de baixo do braço para deitar de bruços no tapete e ficar com as costas ao alcance da mão. Quando perguntei, lá pelas tantas: "Zé, tens ideia do quanto teu vô te ama?", ele girou a cabecinha para me encarar e disse: "Ah, vô, é que a gente ama junto, e quando ama junto, aumenta". Fiquei com medo de machucar de tanto que espremi aquele lourinho magrela.
Eu queria ter contado esta história naquele programa, mas sabe como é, o tempo na TV vale ouro!
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