quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

" Reaproximação Estratégica "

Artigo Zero Hora


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BRUNO LIMA ROCHA
Professor de Relações Internacionais da ESPM-Sul e da Unisinos
A reaproximação progressiva entre Estados Unidos e Cuba foi anunciada na tarde de quarta, 17 de dezembro, com a solenidade devida. 

Simultaneamente, Barack Obama e Raúl Castro informaram ao mundo e em especial para a América Latina que as relações entre os dois países passarão por uma distensão progressiva. Vários são os eixos de análise possíveis para discutir o caso. Neste breve texto, observo a preocupação dos EUA com o aumento da presença de capitais chineses em Cuba e a franca adesão do chefe de Estado cubano a uma linha chinesa pós-Deng Xiao Ping.

Washington vê com certa temeridade a projeção da China como parceiro econômico da América Latina e com especial participação no eixo dos países membros do Mercosul e Unasul. Beijing está financiando a construção de uma rota marítima alternativa ao Canal do Panamá, passando pelo Lago da Nicarágua e onde terá papel importante o novo porto de Mariel, em Cuba. Os EUA operam como força protetiva da via entre o Pacífico e o Caribe/Atlântico; logo a presença chinesa em Cuba como parceira comercial pode implicar numa perda de influência direta maior do que a representada pelo poderio militar do Comando Sul das forças armadas estadunidenses. Para evitar isto, o governo Obama estaria seguindo os passos da própria China que começou a financiar seu crescimento nos anos 80 ao facilitar a repatriação de capitais chineses ultramarinos evadidos do país após 1949. Os EUA não poderiam dar-se ao luxo de não participar da expansão de processos capitalistas dentro do Estado que fora seu adversário por mais de 50 anos.
A vontade do Departamento de Estado de aumentar o aporte de capitais cubano-americanos e o tempo de navegação na internet por cidadãos cubanos também é uma operação de “corações e mentes”. A administração Obama vê o bloqueio econômico como forma ineficaz para derrubar o castrismo, terminando por gerar maior coesão ao Estado na população da ilha. Mais expostos ao modo de vida dos EUA, os cubanos poderiam vir a aderir ideologicamente ao mundo do consumo suntuoso e do individualismo, identificando-se assim com a superpotência.

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