sábado, 27 de dezembro de 2014

" Os 50 Tons de Um protesto "

Artigo Zero Hora


FÊCRIS VASCONCELLOS
Jornalista, editora de Entretenimento ZH Digital


Tudo parece ser preto ou branco no Rio Grande do Sul. Não tem meio termo, tom de cinza. Em 2013, quando a onda de protestos começou, havia quem aplaudisse e quem reprovasse. Certos ou errados _ ou ambos_, aqueles jovens conquistaram mudanças. Uma, é a cruzada que faz hoje a prefeitura da Capital por novas empresas que operem o transporte coletivo _ desejavelmente com mais competência e preços mais justos. Outra, foi a certeza de que gritar dá resultado. Mas agora não são apenas os universitários que trancam avenidas e impõem toques de recolher. Gente que não tem luxo, ou mesmo o básico _ luz e água em casa _, sai às ruas porque sente que precisa acordar os dormentes e pesados tentáculos do poder público.

Quando, em outubro, os moradores das ilhas do Pavão e dos Marinheiros trancaram a BR-290, eu estava de plantão no jornal. Atendi a dezenas de ligações de gente _ com justiça _ indignada porque seus familiares estavam presos em um congestionamento monstruoso. Contudo, uma ligação chamou a atenção. Era um homem que fazia parte da manifestação avisando que o preço para pôr fim ao sequestro da rodovia não era um helicóptero, como se vê em filmes, mas algo bem simples: que a CEEE comparecesse para religar a energia, perdida dias antes por conta de um temporal. Uma hora e meia depois de contatada pela Polícia Rodoviária Federal, me disse um agente, a empresa apareceu.
O próximo grande temporal foi na segunda semana deste mês. Mais uma vez, a falta de luz assombrou milhares de famílias no Estado. Mais uma vez, meus colegas de ZH e eu conversamos com dezenas de pessoas ao telefone. Elas relatavam que, ao contrário do nosso, o da CEEE ninguém atendia. Mais uma vez, dias depois, os moradores da região das ilhas_e de outros lugares_ ainda não tinham luz. Isso só mudou depois que, mais uma vez, eles trancaram a BR-290. Parece que não adianta pagar a conta: a luz só volta por lá mediante a dolorosa tarefa de fazer a população refém. Eles são reféns do descaso do governo; quem passa de carro é refém deles.

Em vez de discutir o vermelho e o azul da história dos protestos nas estradas, o meu pedido para 2015 é que a energia seja gasta respondendo à pergunta: quem é causa do problema original? E como nós podemos, em vez de criminalizar, ajudar essas pessoas para que ninguém se veja obrigado a prejudicar seus iguais em troca de um serviço que lhe é de direito? O protesto não é o problema principal, mas sim, a necessidade de um.

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