ARTIGO - PAULO SEIXAS*
Importa, todavia, refletir sobre a essência do singelo acontecimento. O aspecto que não deve passar despercebido seria a densidade humana de um gesto, muito além das palavras. Gesto profundamente humano e amoroso que, em última análise, traduz a capacidade de se identificar com o sofrimento do outro.
Com um zelo que poderíamos dizer maternal, Francisco debruça-se sobre a angústia de uma criança aflita e, nesse momento, todo o universo da lógica ou a obsessão com afirmações intelectualmente corretas cedem ante o impulso do amor, da solidariedade e da compaixão. O grito do sofredor torna-se uma convocação. Palavras bonitas e ajustadas do ponto de vista da ortodoxia soam vazias e perdem inteiramente seu sentido.
Nesse momento, Francisco não é o Papa preocupado com a repercussão das suas palavras, mas um homem sensibilizado diante da angústia de uma criança que precisa ser amparada, consolada e compreendida. Uma questão maior encobre todas as outras: enxugar as lágrimas de alguém que sofre.
A cena nos remete a algo profundamente familiar e nos permite associar com a dedicação de um pai, sobretudo de uma mãe, incondicionalmente comprometidos com a amorosa missão de acolher e consolar.
O gesto de Francisco transforma as palavras em acalanto e, nesse contexto, o que existe é a pura expressão do afeto e da compaixão.
*Médico psiquiatra
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