quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

" O Fim da " Antiga " " Guerra Fria ? "

Artigo Zero Hora

RAÚL ENRIQUE ROJO
Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS, pós-doutor em Sociologia Jurídica pela Université de Montréal (Canadá)
estagnada há 53 anos,em uma Ditadura descomunal dos CASTROS...
Depois de meio século de embargo imposto à Ilha, os Estados Unidos e Cuba anunciaram ontem sua vontade de restabelecer suas relações diplomáticas. Em momentos em que, segundo o tem manifestado há escassos dias Vladimir Putin, uma “nova” guerra fria parece tomar corpo na Europa, vem de cair nas Américas aquele que passava por ser o último ranço do antigo confronto bipolar que opôs o Ocidente capitalista ao Leste comunista. Mas por que só agora, e neste momento?

Poderíamos evocar simultaneamente razões vinculadas à agenda política norte-americana e razões diplomáticas. Na esfera interna, Obama está mais disposto a assumir riscos, já que não tem mais nada a perder, a dois anos do fim de seu segundo e último mandato. Riscos não muito elevados, já que os norte-americanos em geral têm evoluído bastante sobre as relações com Cuba, sendo poucos os que ainda reclamam como própria esta herança da Guerra Fria.


Quanto ao plano diplomático, muitos dos países da região, que preparam a Cimeira das Américas prevista para abril no Panamá, tinham feito saber que boicotariam a reunião se Cuba não fosse convidada. Barack Obama fez uma boa impressão na primeira Cimeira das Américas da qual participou em 2009. Mas depois desiludiu os latino-americanos.
No que tange às consequências da normalização das relações diplomáticas, não cabe dúvida que é uma boa notícia para a população cubana em geral e para as famílias separadas em particular. Mas esta reconciliação pode trazer grandes transformações:

 Cuba deverá enfrentar-se em curto prazo com um importante fluxo de turistas, de bens importados e provavelmente, também, de investimentos. Uma parte importante da nomenklatura cubana deve estar certamente inquieta perante esta possível evolução. O embargo e o isolamento lhe convinham e muitos destes homens do aparelho do Estado e do Partido podem fundadamente acreditar que serão barridos pelo tsunami a vir.
 Não se pense porém que nada tinha mudado na Ilha nestes últimos anos. O regime tinha feito desde há tempo gestos de abertura em matéria econômica, segundo o modelo chinês, isto é: liberalizando a economia e mantendo incólume a estrutura política autoritária. O restabelecimento dos vínculos com os Estados Unidos dará certamente o golpe de misericórdia ao que ainda fica da Revolução: a dolarização da economia vai se acelerar e as distâncias sociais se acrescerão, também segundo o modelo chinês. Mas, em termos diplomáticos, o avanço pode ser enorme para as relações interamericanas, pois se trata de acabar (finalmente!) com a Guerra Fria em nosso continente.

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