Sociólogo Renato Ortiz ministra aula inaugural na FAC
Renomado professor
revisita temas
como identidade
nacional,
cultura brasileira e
mundialização e conversa
com alunos da
pós-graduação
Os recorrentes e clássicos temas da
cultura brasileira e identidade nacional foram revisitados nessa terça-feira,
13, por um de seus maiores especialistas: o sociólogo e professor da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Renato Ortiz. Com diversos livros
publicados nesse campo, nos quais aborda as fronteiras, os desafios e as
perspectivas que vêm reorientando as sociedades contemporâneas, o pesquisador
trouxe para os alunos de pós-gradução da Faculdade de Comunicação da
Universidade de Brasília a palestra Transformações na identidade brasileira
no processo de mundialização da cultura.
De modo simpático e cordial, foi a
partir de um “incidente que guarda uma especial exemplaridade” que Renato Ortiz
iniciou a sua aula. “Em 1977, ainda professor na Universidade Federal de Minas
Gerais, pedi a meus alunos de graduação que lessem Tenda dos Milagres,
de Jorge Amado, e ainda assistissem ao filme de Nelson Pereira dos Santos”. Já
em 2002, passou o mesmo exercício para estudantes na Unicamp, mas a recepção foi
distinta: “Odiaram, acharam uma chatice, para eles não era identidade nacional,
mas identidade baiana”, contou. Tal episódio foi mencionado para lançar a
seguinte questão: “Como no espaço de vinte e cinco anos o que era nacional
passou a ser visto como local, regional?”
NAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADE
-
O professor aproveitou essa
ilustração para explanar sobre as noções de “nação” e “modernidade” que vêm
sendo desenhadas no país desde o século XIX. “Há um modo de nomear esse debate:
o pensamento brasileiro, em que um conjunto de autores consagrados interpretam o
Brasil, compreendendo figuras desde Silvio Romero e Gilberto Freyre a Sérgio
Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes”. Renato Ortiz explicou
– um a um – os conceitos/categorias que atravessam esse debate: nação, cultura e
identidade. “Pergunto-me, porém, se ainda existe um pensamento brasileiro. Na
minha opinião, esse pensamento, de modo orgânico e sistematizado, terminou nos
anos 1970; o que há hoje são alguns brasileiros que pensam o Brasil, e não mais
um pensamento brasileiro”, complementou.
Segundo o sociólogo, nação é um
conceito que não existia antes da Revolução Industrial, sendo uma totalidade que
requer elementos da cultura nacional e da consciência coletiva para se forjar.
“Uma nação é uma sociedade que se imagina comunidade”, complementou. “Tenda
dos Milagres, por exemplo, nos remete a uma totalidade maior que é a
cultura brasileira, assim como o carnaval do Rio do Janeiro compreende outros
elementos de outros Estados, que se confundem com o Brasil como um todo”,
explica, acrescentando que “cada uma dessas manifestações mantém em miniatura o
conceito de Brasil”.
IDEOLOGIA DO PROGRESSO E
GLOBALIZAÇÃO –
De acordo com Ortiz, alguns
paradigmas conceituais estão sendo transformados. É equivocado, segundo ele,
compreender cultura, identidade e nação sob a perspectiva da “ideologia do
progresso e da linha do tempo”, as quais, segundo ele, vêm se rompendo. “A ideia
do progresso, de concepção colonialista e eurocêntrica, vem sendo quebrada, e a
noção de identidade – esse feixe de construções simbólicas – está deixando de
ser marcada pelo essencialismo, ou seja, não importa mais seu caráter ou
essência, mas apenas como vem sendo construída, passando a ser investigada como
representação”.
O recorrente conceito da
globalização, em geral empregado e compreendido de modo apressado, reducionista
e generalizante, também foi abordado pelo professor. “Atestamos há tempos a
existência de processos globais que transcendem os grupos, as classes sociais,
as nações”, afirmou, acrescentando, porém que “é um fenômeno transnacional, e
não internacional, e é tolice acreditar que vivemos em um mundo sem fronteiras.
O processo de globalização quebra algumas, mas cria outras”.
MODERNIDADE
-
“A globalização
mostra que é possível ser moderno sem ser nacional”, disse, apontando que o
processo de modernização reorganizou as forças políticas, econômicas, bem como
as noções de proximidade e distância”. Para ele, o espaço de modernidade/mundo é
constituído a partir de um conjunto de referentes utilizados na construção de
identidades, não sendo mais o Estado/nação o determinante absoluto da identidade
nacional. “Existe a globalização, não a identidade global, pois o mundo global
não é uno, é uma soma de pluralidades”, aproveitando para lembrar que, em
contextos de crise, os elementos de identidade nacional costumam emergir com
mais força, a exemplo dos recentes episódios que ameaçaram a soberania do
Paraguai e da Grécia, conforme apontou.
Provocado por uma pergunta que
questiona a concepção de cultura por Celso Furtado, Renato Ortiz fez questão de
sublinhar que considera sua compreensão “mecânica, pois ainda presa a uma época
desenvolvimentista, e reducionista – como no caso de alguns outros economistas –
por condicionar e, por vezes, absolutizar os elementos da cultura às forças do
mercado”. E de modo contundente, concluiu: “Cultura não é mercadoria
simplesmente porque a esfera cultura está indubitavelmente imersa na esfera do
simbólico”.
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Reportagem por Luciana Barreto - Da
Secretaria de Comunicação da UnB
Fonte:
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=7324
14/11/2012
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