quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Editorial < A Explosão da Violência >

Os atentados registrados nesta semana na Grande Florianópolis e em Blumenau confirmam os indícios de que a radicalização da violência, iniciada em São Paulo, começa a se alastrar para outras cidades, com a mesma tática de afronta às forças de segurança. Também no Rio Grande do Sul, já foram interceptados sinais de que bandidos trocam informações sobre possíveis atentados contra policiais, com o objetivo de abalar moralmente quem está na linha de frente do combate ao crime.
Carros queimados na avenida Luiz Migliano. Foto: Luiz Cláudio Barbosa/Futura Press


Na capital paulista, os ataques foram subestimados pelo governo do Estado até bem pouco tempo, apesar do registro de mais de 10 assassinatos por dia. A lenta capacidade de reação, que retardou a adoção de medidas em conjunto com a área federal, é um exemplo do que Santa Catarina e o Rio Grande do Sul não podem fazer no enfrentamento da delinquência organizada.

O fato de que facções comandam os atentados não é novidade para as autoridades em nenhum dos Estados atingidos. O que se apresenta como um desafio cada vez mais complexo é a transformação das próprias polícias em alvo preferencial. Agindo de dentro das cadeias, líderes que deveriam estar incomunicáveis comandam ações cada vez mais agressivas. Está claro que as quadrilhas agem dessa forma para testar diretamente os aparatos de segurança.

Não há como negar que em São Paulo a intenção foi bem-sucedida. São muitas as causas já identificadas nos ataques, e algumas são constrangedoras para o setor público. Além da retaliação que mobiliza as facções contra policiais considerados matadores de quadrilheiros, há os componentes das relações promíscuas entre agentes e delinquentes, da incapacidade de imobilizar chefes de bandos recolhidos aos presídios e das deficiências dos serviços de inteligência.

A própria Secretaria de Segurança encarregou-se de divulgar, em Santa Catarina, que sabia da troca de mensagem, por celular, sobre a evolução de um plano de incendiar coletivos, o que acabou se confirmando – mas a interceptação do comunicado ocorreu ao acaso. O que há em comum entre o caso catarinense, os episódios de São Paulo e a suspeita de articulação de um atentado a policiais gaúchos é a explicitação do atrevimento da criminalidade, que parece não temer as instituições.

São agredidos, além das polícias, o Ministério Público, a Justiça, o sistema penitenciário e, evidentemente, os governantes. Nesse sentido, é importante atentar para a advertência feita ontem pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de que a União, os Estados e os municípios devem assumir em conjunto o enfrentamento da guerra urbana organizada a partir das cadeias, sem jogo de empurra e sem confrontos políticos.

O crime organizado, lembrou o ministro, não mais é local, mas nacional, com articulações entre quem trafica drogas e armas, sequestra, assalta bancos. A imitação do que acontece em São Paulo ameaça alastrar pelo país um fenômeno revelador da profissionalização da criminalidade, das conexões entre presos e bandidos em liberdade e, o que é pior, da precarização das estruturas e dos controles de segurança. É dever das instituições reagir com determinação ao insulto e às suas próprias deficiências, ou as cidades correrão o risco de sucumbir ao controle da bandidagem.

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