Paulo Hayashi
Jr*
Se pudéssemos resumir a Bíblia em três
palavras, possivelmente seriam elas: humildade, caridade e disciplina.
A humildade é a virtude dos que se colocam na
posição de pequeno, da não vaidade e orgulho. Sabem de suas limitações, bem como
de sua pequenez frente ao universo.
Já a caridade é a ação de fazer bem ao próximo
sem esperar nada em troca. Não é o mesmo que o coronelismo político, ou os
projetos de marketing social, que muitas empresas adotam. A caridade é ato de
bondade, perdoando aqueles que nos ofenderam e esquecendo os bens que nós
próprios fizemos aos outros.
Por sua vez, a disciplina talvez seja a questão
mais difícil, pois requer toda uma vida, ou até mais. Não é ato isolado, mas o
aperfeiçoamento do homem ao longo do tempo. É a briga dele consigo mesmo, com
seus vícios, com suas imperfeições. Paulo de Tarso, São Francisco de Assis e
Francisco Cândido Xavier são exemplos de homens que buscaram na disciplina
pontos de apoio para a vida. Sabiam que os maiores inimigos, as grandes manchas
de escuridão, estavam dentro do seu próprio ser.
Por meio da disciplina vai se moldando o novo
Homem, com menos arestas e livre de vícios e paixões inferiores, conseguindo
passar, assim, pela famosa porta estreita das escrituras sagradas. É o
superhomem de Nietzche, aquele que atravessa a ponte entre o animal e o ser
civilizado.
Humildade, caridade e disciplina, são estes os
pontos-chave da Bíblia, bem como para a felicidade. Todavia, como fica a questão
do dinheiro quando confrontado com estes itens? Qual é a influência da pobreza e
da riqueza sobre a humildade, a caridade e a disciplina do homem? Qual das duas
é mais atuante para fazer com que o homem seja inimigo de seu ego, de sua
vaidade e orgulho?
Tanto a riqueza, quanto a pobreza são provações
para o homem. Numa, há escassez; noutra, abundância. Tanto uma, quanto a outra
são situações dignas de trabalho, respeito e de aperfeiçoamento; lições
preciosas para o acúmulo de experiência, conhecimento e para o despertar do
verdadeiro amor. Apesar de ambos os caminhos serem tortuosos, a riqueza
apresenta peculiaridades próprias, sendo tratada equivocadamente até mesmo como
uma impossibilidade de se alcançar um estágio espiritual avançado. Todavia,
tem-se isso devido as dificuldades inerentes ao caminho e não por causa dela.
Sem dúvida nenhuma, ser rico materialmente sem o devido preparo moral é como dar
um carro veloz para uma criança dirigir. O estrago pode ser grande. Na riqueza,
a luta contra a vaidade, a sovinice e a preguiça são hercúleas.
Quem é vaidoso, se mostra superior aos outros e
se esquece da lição da humildade. Fora a bajulação desnecessária sofrida. A
sovenice, por sua vez, não se importa com a caridade. Já a preguiça não gosta da
disciplina, pois esta requer trabalho, trabalho, trabalho.
Todavia, jamais nos esqueçamos que o dinheiro
compra não apenas a mercadoria, mas também o remédio para o necessitado, a
comida para o esfomeado e o teto para o órfão desamparado. Por isso, a riqueza
também pode ser encarada como uma dádiva, desde que bem empregada para ajudar ao
próximo, lembrando que, no final, receberemos conforme tenhamos dado.
Assim sendo, não sejamos radicais em acreditar
que riqueza é sinal de desonestidade, ou que o dinheiro é algo ruim. Tal qual
esmerado aluno que passa em avaliação árdua e complicada, grande é a recompensa
daqueles que conseguem passar pela prova da riqueza material construindo o bem
para o próximo sem sinais de superioridade, orgulho e preguiça, pois, como diria
Sêneca: “é grande quem sabe ser pequeno na riqueza”.
____________________________________________*Paulo Hayashi Jr. é doutorando em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
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