quinta-feira, 27 de agosto de 2015

" Cardápio da Crise "

Iotti: supercola Iotti/Agencia RBS

No extenso menu de crises que podem ser servidas a um país, os pratos fortes são a crise econômica e a crise política. Combinadas, elas podem provocar uma indigestão conhecida como crise institucional, da qual seremos poupados enquanto os poderes seguirem funcionando dentro de razoável normalidade. No Brasil, a crise econômica começou a ser cozinhada há 10 anos, quando os partidos no governo, em nome de se perpetuar no poder, torraram os cofres públicos no inchaço da máquina e em ramificações abrigadas no largo forno estatal. Já a crise política germinou lá no mensalão, apenas um prato de entrada para o banquete com dinheiro público no qual se refestelaram os comensais da Petrobras.
Agora, as duas crises avançam juntas e se nutrem, simultaneamente, da Lava-Jato para ganhar massa e jogar uma grande sombra sobre o futuro. A operação é de faxina obrigatória nos gabinetes, mas há tanto gás venenoso no ambiente, que, se alguém riscar um fósforo, a crise institucional explode. O que a desencadearia? De saída, a hipótese de um poder desviar-se de procedimentos republicanos para se sobrepor a outro, como a destituição de Dilma por um complô ou a manipulação dos tribunais superiores pelo Planalto. Ou ainda a tentativa do Executivo de forçar a derrubada do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. “Esse é um assunto interno do Congresso, que saberá como resolvê-lo”, observa o deputado José Fogaça (PMDB-RS), com um quarto de século vivido entre Senado e Câmara.
Há outros ingredientes para apimentar uma crise institucional: tentativa de dominar os meios de comunicação, perda de controle emocional pelo chefe do Executivo, repressão violenta a protestos pacíficos, 
Iotti: vão pra rua arejar Iotti/Agencia RBS

inflação em alta, desabastecimento e desemprego em larga escala, além de forças armadas partidarizadas ou convocadas para defender o governo. Essa é, aliás, a cara da Venezuela. Não estamos lá, mas há um aspecto tipicamente brasileiro rondando por aqui: o Fator Lula. O que ocorreria se Lula fosse preso e a Lava-Jato entrasse arrombando a porta do Planalto? Há um vulcão em Brasília. Ele pode ficar adormecido ou só soltar fumacinha de vez em quando. Mas também pode cuspir uma chuva de fogo sobre a Praça dos Três Poderes.

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