sexta-feira, 28 de agosto de 2015

<< Recessão mais profunda e prolongada >>


por Beth Cataldo



Na formulação de seu plano de voo para atravessar o ano de 2015, o governo projetou um período de desaceleração econômica que se estenderia até dezembro, quando já seria possível detectar sinais de melhoria na atividade econômica. E contava com uma franca recuperação para o início do próximo ano. Os dados divulgados hoje pelo IBGE de queda de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, ante os três meses anteriores, mostram que a atividade econômica se deprimiu mais do que o previsto e a recuperação também será mais lenta. 


Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda acentua-se para 2,6%, depois que foram ajustados os números do primeiro trimestre deste ano, que agora registram uma redução de 0,7%, e não de 0,2%, em relação ao último trimestre de 2014. Nesse contexto negativo, e que supera as projeções de analistas divulgadas nesta semana, chama atenção o tombo da construção civil, com uma retração de 8,4% na comparação entre o segundo e o primeiro trimestre deste ano. Contaminado pela queda no consumo das famílias, o comércio apresentou uma redução de 3,3% na avaliação dos mesmos períodos. 



A caracterização de uma recessão técnica, depois de dois trimestres consecutivos e negativos, nem precisaria aguardar os números oficiais para se confirmar. Os sinais de que o país está mergulhado na recessão estão visíveis para todos. O aumento do desemprego, o adiamento de investimentos e a queda nos índices de confiança dos consumidores e empresários compõem esse quadro desalentador. Ainda mais quando se lembra que a economia brasileira cresceu 7,5% há pouco menos de cinco anos, alimentando a expectativa de que o país caminhava para um novo patamar de desenvolvimento.  



A perspectiva agora não é de um rápido ajuste, como aconteceu em 2009, na esteira da crise financeira global desencadeada nos Estados Unidos, e que apontou uma reversão no ano seguinte. Com um governo profundamente fragilizado do ponto de vista político, as soluções para o resgate da economia permanecem obscuras e incertas. O melhor termômetro para se avaliar esse clima desestimulante pode ser encontrado na oitava queda trimestral consecutiva da Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o nível de investimentos na economia. 



A queda desse indicador, comparando-se o segundo trimestre com o primeiro de 2015, foi de 8,1% e recaiu sobre uma base já reduzida. Em relação ao PIB, a taxa de investimento recuou para 17,8%, abaixo do mesmo período do ano anterior, quando o patamar era de 19,5%. O gráfico divulgado hoje pelo IBGE mostra que o país conseguiu sustentar uma taxa de investimento ao redor de 20% do PIB desde 2010 até 2013 e desde então não consegue reagir. 



São dados que comprovam a perspectiva de que a recessão brasileira, desta vez, será mais duradoura, estendendo-se para 2016, como já indicam as estimativas de mercado. Sem investimentos, não é possível criar as condições para retomar o crescimento econômico. Nesse ambiente, o fracasso do ajuste das contas públicas – a grande tarefa prevista para 2015 – joga as expectativas dos agentes econômicos ainda mais para baixo. A resposta ensaiada pelo governo de retorno da CPMF, para garantir as receitas necessárias no próximo ano, mostra que a saída para a economia brasileira ainda está longe de ser encontrada.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário