sábado, 3 de junho de 2017

 Na noite de quarta, ele mandou rodar uma edição extra do "Diário Oficial". A publicação teve um único objetivo: renovar a blindagem jurídica do velho parceiro Moreira Franco.

No fim de janeiro, a Lava Jato se aproximou perigosamente do ex-governador do Rio. Quando o Supremo Tribunal Federal homologou as delações da Odebrecht, o alerta soou no Planalto. Três dias depois, o presidente recriou um ministério para dar foro privilegiado ao amigo.

Moreira passou a chefiar a Secretária-Geral da Presidência, que o próprio Temer havia extinguido. O Supremo autorizou a manobra, e os dois companheiros tocaram a vida. O alarme voltou a soar no início da semana, quando a blindagem chegou perto do prazo de validade.

Como o Congresso não validou a medida provisória, Moreira ficou ameaçado de perder o status de ministro. Diante do risco-Curitiba, o presidente deixou a discrição de lado e editou um novo texto com o mesmo teor do antigo. Seus assessores o apelidaram de "MP do Moreira", mas podemos chamá-lo de Seguro Angorá.

O caso é mais escancarado que a tentativa de transformar Lula em ministro no fim do governo Dilma. Além de editar um ato público com o objetivo privado de proteger um amigo, Temer driblou o artigo 62 da Constituição, que proíbe o governo de editar duas MPs com o mesmo teor.

A operação para blindar Moreira foi deflagrada na mesma semana em que o Supremo começou a discutir o foro privilegiado. Nesta quinta, quatro ministros defenderam a restrição do benefício, que dificulta a punição de políticos acusados de corrupção.

O julgamento foi interrompido por um providencial pedido de vista de Alexandre de Moraes, que discursou por uma hora e meia antes de pedir mais tempo para pensar. Ele é o único juiz do STF indicado por Temer. Antes de vestir a toga, dividia mesa com Moreira nas reuniões ministeriais. 



Imagem do passado



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SÃO PAULO - Quando observamos uma estrela, viajamos no tempo. Nós não vemos o corpo celeste como é hoje, mas como era no passado, quando a luz por ele emitida iniciou sua viagem em direção a nosso planeta. A imagem da estrela mais próxima da Terra, Proxima Centauri, leva 4,2 anos para chegar a nós. As dos astros mais distantes que conseguimos enxergar a olho nu embutem atrasos de milhares de anos.

Algo parecido ocorre com o PIB. Quando o IBGE divulga os resultados, ele nos traz informações sobre o que estava acontecendo com a economia no passado. No caso dos números publicados ontem, o que se passava no primeiro trimestre.
Mas isso é só parte da história. Temos sempre grande interesse em conhecer os dados porque o passado mais próximo diz mais a respeito do presente do que o passado mais remoto. 

O que aconteceu no primeiro trimestre é muito mais relevante para nossa situação atual do que o que ocorreu em 2016 ou 1929. É como a previsão do tempo. Se você não tem nenhuma informação e ainda assim insiste em fazer prognósticos sobre o clima, sua melhor estratégia é estimar que as condições de amanhã serão iguais às de hoje. Vai errar várias vezes, mas ainda assim colecionará mais acertos do que erros.
Essas reflexões, porém, valem para períodos normais e nós não vivemos um período normal. Desde que Michel Temer se deixou flagrar numa conversa inapropriada com Joesley Batista, adicionou-se tanta incerteza política ao cenário econômico que a regrinha heurística de que o passado imediato determina o presente está suspensa. Na verdade, sabemos que as perspectivas relativamente otimistas que pareciam realistas três semanas atrás deixaram de sê-lo.



Resta torcer para que o retrato relativamente alvissareiro que o IBGE nos trouxe não seja o equivalente econômico do brilho normal que antecede uma supernova, a explosão catastrófica de uma estrela maciça. 

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