quinta-feira, 29 de junho de 2017

 
 
Há uma guerra na fronteira Norte
Reprodução
Helicóptero sobrevoa sede do governo e do Supremo, e Maduro fala em terror
Helicóptero sobrevoa prédios do governo e do Supremo venezuelano nesta terça-feira
 
 
A Venezuela está a um passo da guerra civil, se é que já não mergulhou nela. É a conclusão inescapável que se pode tirar do atentado contra o Tribunal Supremo de Justiça, na terça-feira (27), praticado a partir de um helicóptero da polícia –ou, mais exatamente, do CICPC (Corpo de Investigações Científicas, Penas e Criminalísticas).

O líder do "ataque terrorista", como o qualificou o presidente Nicolás Maduro, chama-se Oscar Pérez, é inspetor do CICPC, membro da Brigada de Ações Especiais e chefe de operações aéreas, além de piloto de helicópteros e paraquedista.

Em resumo, não é um oficial qualquer. Ainda por cima, apresentou-se de cara limpa em um tuíte, sob a guarda de quatro soldados (ou oficiais?) encapuzados. Significa que se oferece à repressão, na suposição de que terá seguidores na sua cruzada para "livrar-nos desse governo corrupto", como afirmou. É mais um sinal de que o edifício bolivariano apresenta cada vez mais rachaduras, ainda que em doses liliputianas.

A dissidência mais ruidosa e significativa foi aberta pela procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, fiel funcionária do regime até que Maduro ultrapassou todos os limites, ao confiscar as funções da Assembleia Nacional, controlada pela oposição desde a eleição de 2015.

O ataque ao Supremo não é o único indício de uma guerra civil de baixa intensidade em curso há pelo menos três meses. Não há como qualificar de outra forma os choques quase diários entre os manifestantes e as forças repressoras, que já causaram quase 80 mortes.

Não há movimento civil que se mantenha nas ruas durante tanto tempo, ainda mais sendo impiedosamente reprimido com uma violência típica das ditaduras, se não for por puro desespero. Desespero causado pela carência de alimentos e remédios, pela profunda retração econômica, pela inflação que é recorde mundial e pela destruição do avanço social dos primeiros anos do chavismo.

Sobre esse último ponto, basta citar a Pesquisa sobe Condições de Vida na Venezuela, elaborada por três das principais universidades do país e que mostra que, em dezembro de 2016, "pela primeira vez na história, chegamos a 82% de lares em situação de pobreza". Constatação de Ángel Oropeza, um dos responsáveis pela pesquisa.

O drama venezuelano fica acentuado quando se sabe que o governo não toma conhecimento dessa triste realidade e não retifica uma só das políticas que levaram à catástrofe. O que fazer quando se tem uma situação tão crítica na fronteira Norte do Brasil? Não há muito o que pode fazer um governo como o de Michel Temer, cuja única agenda é a sobrevivência.

Mas há uma sugestão que vale a pena anotar, feita pelo sociólogo mexicano Jorge Castañeda, em artigo desta quarta (28) para "El País": "Não há saída para a tragédia de Caracas sem Cuba". 

É por aí, dada a influência ideológica dos cubanos sobre o bolivarianismo. A dúvida é saber qual governo latino-americano pode trabalhar com Cuba para enfrentar o colapso da Venezuela. O do Brasil está fora do jogo, desgraçadamente.

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