quarta-feira, 4 de abril de 2012

A janela ...toque de luz ,de Djanira Silva

A janela é um toque de luz na casa flutuante na superfície da água. Não
adianta mudar o foco de visão, o olho da janela, sempre no mesmo lugar, tem vida
como o olho de uma fotografia ou as asas do vento batendo forte nas águas do
mar.
Círculo que se fecha
em sucessivas ondas, braços prateados, coloridos, arco-íris restaurado no que
resta do mundo.
O olhar pendurado na
janela. Mistério de imagens imersas, petrificadas numa parda que não me permite
ver o essencial.
Cheio ou vazio, o
mundo é mistério. Difícil saber onde começa, onde termina.
Algemada à saudade,
nunca serei livre. Prendem-me as formas e as cores do perigo. Não posso ver o
outro lado enquanto as sombras amadurecem, mudam de lugar e não refletem meu
rosto nem a mão que me tortura. Formas indefinidas oscilam nas faces, nos olhos,
no sorriso de uma superfície sem definição.
Abre-se, cada vez
mais, a janela. Não consigo fugir à hipnose do tempo. Tento ler as legendas do
mundo, legendas que me falam de quem ri, de quem diz não. Círculos, sombras,
formas geométricas, certezas.
O vento fecha a
janela, apaga a porta. Não tenho como fugir das imagens que amanhã voltarão,
embora eu não saiba onde ficou o ontem, onde estará o
amanhã.
Rio, mar, cachoeiras.
Apenas bolhas e espuma nos desfiladeiros. Na alma a agonia do invisível nas
armadilhas dos sonhos.
Obs: Texto retirado do livro da
autora – A Morte Cega

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