quinta-feira, 5 de abril de 2012

" Coisa Insignificantes " de : Cláudia Tajes

A vida é feita ...

CLAUDIA TAJES

As coisas mínimas

A vida, em sua maior parte, é feita de coisas mínimas, insignificâncias com significados que acabam por preencher os dias. Nada de grandes atos de coragem, de generosidade, de abnegação, de altruísmo. Em compensação, nenhuma tragédia que mereça o nome ou tristeza que não passe, ao menos na média. Com o bônus de grandes leituras, filmes, perspectivas, momentos.

A vida também é feita de irritações. Nessa categoria, um desafio para o humor e a paciência é o queijo fatiado, aquele que se encontra em embalagens plásticas nos balcões do supermercado. Por que as fatias grudam de um jeito que torna impossível colocar apenas uma no pão?

O mais certo seria chamar de queijo esgualepado (roto, em um dos sentidos que constam do Dicionário de Porto-Alegrês, do professor Luís Augusto Fischer), já que só arrancando os pedaços é possível descolá-lo. Nas raras vezes em que o queijo fatiado não gruda, tenho a impressão de que alguém, afinal, gosta de mim. Deve ser o homem da fiambreria.

Outro motivo de irritação constante é o telemarketing. O número aqui de casa está em todas as listas de operadoras de telefonia fixa e móvel, TVs a cabo, bancos e instituições de caridade das mais suspeitas: o Lar da Vó Ninica, o Abrigo da Menina Eloá, o Refúgio Alegria do Pobre, impossível lembrar de todos os que nos necessitam de segunda a sábado, os mais persistentes também no domingo.

Pessoas com sotaques do Brasil inteiro oferecem vantagens inimagináveis, é só fazer um plano, qualquer que seja o plano. Eu nem atendo mais o telefone fixo para não correr o risco de comprar o consórcio de um trator.

São tantas as coisas mínimas a irritar o cidadão que a tendência é a de não valorizar as alegrias prosaicas que contrabalançam os entraves. Nessas horas, é bom para a saúde lembrar do grande Millôr Fernandes: “Só se morre uma vez. Mas é pra sempre”. E ainda: “A vida diária é apenas um modo de encher o tempo entre o nascimento e a morte, com algumas passagens pela diversão e inúmeras pela chateação. Comigo, felizmente, é o contrário”.

Que seja para todos nós também.

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