sexta-feira, 2 de outubro de 2015

" Inflação para 2015 - com dois dígitos "

Artigo

Marcelo S. Portugal: inflação em dois dígitos em 2015

Professor titular da UFRGS


A política econômica do primeiro mandato da presidente Dilma foi marcada, entre outras coisas, por forte retrocesso no que diz respeito ao combate à inflação. Em primeiro lugar, o Banco Central (BC) ficou mais leniente com relação ao controle da inflação. Ao invés de perseguir a meta inflacionária de 4,5% ao ano, o BC passou a ter como objetivo manter a inflação abaixo do limite máximo de 6,5%. Em segundo lugar, retomamos a ideia, muito popular nos anos 80, de que o combate à inflação pode ser feito através do controle de preços, especialmente tarifas públicas. 
Assim, para evitar estourar o teto do sistema de metas de inflação, o governo passou a manipular os preços dos combustíveis, da energia elétrica das tarifas de ônibus urbanos etc.
Se, por um lado, a presidente Dilma conseguiu manter a taxa de inflação um pouco abaixo dos 6,5% em todos os anos do seu primeiro mandato, por outro lado, a política de controle de preços gerou fortes desequilíbrios setoriais e fiscais. Essa leniência inflacionária está cobrando seu preço em 2015, tanto na forma de aceleração da inflação quanto em termos de um elevado déficit público.
Em uma palestra na CIC de Caxias do Sul em 13/07/15, afirmei que, na minha opinião, a inflação brasileira atingiria, no corrente ano, os dois dígitos pela primeira vez desde 2002. A recente disparada do dólar e o reajuste dos preços dos combustíveis me deixam ainda mais seguro em relação a esse triste vaticínio.
Parte significativa da inflação de 2015 está associada aos erros do passado. Isso é, decorre da necessidade de corrigir preços que haviam sido artificialmente contidos por motivos políticos no passado. 

Contudo, uma outra parte do processo inflacionário, associada, principalmente, à desvalorização excessiva da moeda, decorre de erros da condução da política fiscal. Ao não promover o ajuste fiscal, a presidente deixa o país sem rumo, o que aumenta a incerteza e, consequentemente, gera desvalorização cambial e inflação. Para conter a inflação e retomar o crescimento, o primeiro passo é o ajuste fiscal.

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