sexta-feira, 30 de outubro de 2015

" Eles bebem muito " !


Jairo Bouer
Psiquiatra

 Jovens se excedem espontaneamente no consumo de bebidas alcoólicas
especialmente em festas do tipo "open bar"

Beber muito em um curto intervalo de tempo expõe os jovens a um risco muito maior de apagões, violência, acidentes 
e sexo sem proteção.

Esse é o principal resultado de um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que acompanhou mais de 1.200 jovens em 31 casas noturnas de São Paulo.

O trabalho foi publicado na edição de agosto da revista PLoS ONE e divulgado na última semana no estadao.com.br, em reportagem de Paula Felix. Jovens de 18 a 24 anos foram avaliados, com entrevista e bafômetro, antes da balada, ao sair da festa e no dia seguinte.

Tomar cinco ou mais doses em uma única ocasião (o que os especialistas chamam de binge drinking é uma expressão moderna para o ato de beber bebidas alcoólicas com a principal intenção de tornar-se intoxicado pelo consumo pesado de álcool em um curto período de tempo) aumenta a chance deintoxicação alcoólica e, portanto, compromete a capacidade do jovem de avaliar o risco nas situações em que se envolve.

Quase 30% dos homens e 22% das mulheres apresentaram o padrão de “binge”, que é favorecido pelas festas “open bar” [onde se paga uma entrada e pode-se beber à vontade]. Nas festas universitárias, muitas delas hoje apoiadas pela indústria da bebida, esse é o modelo preferido pelos jovens, o que dificulta possíveis mecanismos de controle individual do consumo ou da implementação de estratégias de redução de danos.



Os pesquisadores perceberam comportamentos de risco distintos entre os sexos:
  • 28% dos homens e 20% das mulheres dirigiram depois de beber,
  • 16% deles e 9% delas usaram drogas ilícitas e
  • 11% dos homens e 7% das mulheres fizeram sexo sem proteção.
  • O “blackout” (não lembrar o que fez depois de beber muito) aconteceu com quase 20% dos jovens e revela uma situação com alto potencial de risco para diversos padrões de comportamento.

Publicidade de bebidas alcoólicas na televisão e em revistas de circulação nacional
tem forte influência para o início do consumo entre adolescentes

                   Mais novos X álcool na TV

Mas não é só o jovem de 18 a 24 anos que bebe muito! Bom lembrar que o início de contato com bebida tem acontecido de forma precoce no Brasil. Quanto mais cedo se dá esse contato, maiores os riscos de os padrões complicados de uso, como o próprio episódio do “binge”, o abuso e a dependência. Nesse sentido, um novo estudo, divulgado na última semana pelo jornal inglês Daily Mail, mostra que propagandas de bebida na TV e em revistas estão influenciando, de maneira importante, o comportamento dos menores.

O trabalho, feito por pesquisadores da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, comparou dados divulgados por uma empresa de análise de mercado, sobre exposição de menores de 18 anos a anúncios de diversas marcas de bebida entre 2011 e 2012, e cruzou esses números com os de uma pesquisa nacional de consumo de álcool por jovens.

Os resultados, publicados no American Journal of Drug and Alcohol Abuse, mostram que crianças e jovens estão cinco vezes mais propensos a comprar bebidas de marcas que anunciam seus produtos na TV e 36% mais influenciados a adquirir produtos que fazem propaganda em revistas de circulação nacional. Segundo os pesquisadores, os dados revelam o quanto a publicidade pode influenciar o comportamento dos mais novos, sobretudo dos menores de 18 anos, em relação ao consumo de álcool.

Se essa influência é iniciada e potencializada de forma mais significativa na adolescência, não é de se estranhar que aos 18(quando o acesso ao álcool fica ainda mais facilitado), quase um em cada três garotos e uma em cada quatro meninas comece a adotar padrões como o “binge drinking” e passe a se expor de forma importante a diversos tipos de risco.

Algumas estratégias defendidas pelos especialistas para lidar com o que consideram hoje um problema de saúde pública, são:
  • Repensar a forma como as bebidas (principalmente as de teor alcoólico mais baixo) ocupam espaço hoje nas diversas mídias (de forma importante na internet),
  • educar para o consumo (mesmo levando-se em consideração que o álcool é um potente alterador da nossa percepção de risco),
  • fiscalizar a venda e o consumo de bebidas pelos menores de maneira mais eficaz e
  • pensar em estratégias de reduzir danos ligados ao consumo de álcool.
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Fonte: O Estado de S. Paulo – Metrópole

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