quinta-feira, 3 de setembro de 2015

" O Recado da India "

Artigo| O RECADO DA ÍNDIA


MARCELO RECH
Jornalista do Grupo RBS
marcelo.rech@gruporbs.com.br

MUMBAI _ Quando a presidente Dilma atribui à economia mundial a culpa pela desgraceira no Brasil, ela deveria combinar o discurso com a Índia. Vá lá que os indianos sejam menos dependentes de commodities, mas ainda assim o I dos BRICS é um exemplo de como, mais do que acender velas à Santa China, um ambiente de confiança e de abertura de mercados pode gerar prosperidade real para centenas de milhões de famílias.

Entre abril e junho deste ano, enquanto o PIB brasileiro caía 1,9%, o indiano subia 7%. A Índia tomou o lugar do Brasil entre os queridinhos da economia mundial porque está aprendendo a combinar liderança e responsabilidade fiscal com a desmontagem da fúria regulatória e reformas modernizantes. Boa parte desse mérito se deve ao primeiro-ministro Narendra Modi, um político de 64 anos que conjuga o carisma de Lula dos bons tempos com a disposição para sacudir a pasmaceira estatal exibida por Fernando Henrique Cardoso.

Com poucos recursos naturais, a Índia aposta na tecnologia para dar seu grande salto à frente. Na contracorrente da burocracia e da acomodação, Modi está pondo de pé um plano de criar cem cidades inteligentes, valendo-se do extraordinário potencial intelectual dos indianos _ 90 mil deles, por exemplo, são PhDs em atuação nos EUA. Além disso, nos próximos anos, 500 mil vilarejos deverão estar conectados por fibra óptica. Na outra ponta, o governo constrói 100 milhões de banheiros num país onde os dejetos de metade da população fluem ao ar livre.
A nova Índia é capaz de ousadias de deixar sueco boquiaberto: há três anos foi criada uma identidade única pela leitura da íris que já cadastrou 800 milhões do 1,25 bilhão de indianos. O resultado é um golpe no crime e na corrupção. Dificultaram-se as fraudes nos programas sociais, enquanto repartições começam a usar a biometria para controlar a frequência e o horário dos funcionários.

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