terça-feira, 22 de setembro de 2015

" Os Políticos e a História "

Opinião ZERO HORA

Dione Kuhn



Em novembro de 1999, fui cobrir como repórter de ZH o 2º Congresso Nacional do PT, em Belo Horizonte. Aquele encontro foi uma espécie de marco na história do partido, que vinha de três derrotas seguidas em eleições presidenciais (1989, 1994 e 1998). Entre a corrente majoritária, comandada por José Dirceu, havia o consenso de que o partido precisava dar uma guinada ao centro. Ou fazia isso, ou Lula perderia pela quarta vez.
Naqueles três dias de debates, pude ver de perto como agia nos bastidores o homem que seria o artífice dessa transformação do PT. Era, sem dúvida, um político acima da média. Só entram para os livros de História os políticos que deixam grandes marcas, para o bem ou para o mal. Nenhum mandatário, por maior que seja o seu tempo de vida pública e seu eleitorado, será lembrado por ter praticado a política miúda, do assistencialismo. Esses tendem a cair no esquecimento.
Dirceu tinha controle de tudo, não dava muita margem para negociação com as correntes menores do PT. Não havia tese que não passasse pelo seu crivo. Foi naquele congresso que o discurso do socialismo deixou de ser prioritário e o partido abriu o leque de alianças, que incluía o PMDB. Também foi sepultada a proposta de impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Para um partido que almejava o poder, não cabia defender teses que pudessem ser interpretadas como golpistas. Tudo foi decidido com a mão de ferro de Dirceu, que saiu do encontro reeleito para mais um mandato como presidente do partido.
Aquele congresso que marcou a mudança do PT ajudou a garantir, três anos depois, a eleição de Lula. Desde lá, os poderes de Dirceu só aumentaram, a ponto de ele criar um esquema de controle da base aliada por meio de distribuição de dinheiro público — o mensalão. Acabou caindo na sua própria armadilha. A condenação e a consequente prisão lhe tiraram força e brilho. Mas ainda restava a imagem de um político que fez tudo em nome de uma causa, de um projeto partidário.
A situação que vive agora, como réu na Operação Lava-Jato, é diferente. Os indícios até agora apresentados apontam que o ex-ministro recebeu para si dinheiro oriundo da Petrobras. Se vier a ser condenado, terá uma pena bem mais pesada, capaz de mantê-lo por muitos anos na prisão. Será sua derrocada como político. A sua biografia constará nos livros de História — não há como apagá-la em razão do seu protagonismo —, porém manchada por dois dos maiores escândalos de corrupção já vividos pelo país.

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