sexta-feira, 11 de novembro de 2011


Bruno Fialho Braga*

As chances de cada um

A doença pode nos surpreender a qualquer momento. Desde o nascimento, estamos sujeitos aos azares das ocasionalidades peculiares a cada etapa da vida. Não é de sur-preender que as crianças sejam mais suscetíveis às infecções e infestações; que os jovens se acidentem mais; que os maduros venham a sofrer as consequências dos excessos dietéticos e físicos cometidos nas etapas anteriores; que os idosos tenham doenças degenerativas ou maior incidência de câncer.

A medicina tem se ocupado, primordialmente, com o ato de curar, ou seja: uma vez constatada a doença, se aplicam as medidas possíveis e necessárias à sua erradicação. Com a identificação de fatores nocivos à saúde, passou-se a dar mais atenção à prevenção, que pode ser primária (antes do aparecimento da doença), secundária (afastamento das complicações e/ou agravamento) ou terciária (reabilitação).

Mais modernamente, a prática médica foi instrumentalizada no sentido de predizer acontecimentos vindouros na vida do indivíduo, baseada – primordialmente – em alterações genéticas. É a chamada medicina preditiva.

Diversas doenças, embora com um substrato genético identificado, são multifatoriais em suas causas e, portanto, com baixos índices de previsibilidade (hipertensão, obesidade, diabetes), enquanto outras são altamente previsíveis por apresentarem modificações com alta herdabilidade (Down, fibrose cística, anemia falciforme, hemofilia, por exemplo).

Num sentido amplo, porém, convém registrar que a prevenção tem a ver com medidas relativas a toda a população: as pessoas devem evitar o fumo, as gorduras, o álcool, comportamentos de risco no esporte, no trânsito etc., porque – a médio ou longo prazo – produzirão graves consequências para o organismo. Já a preditividade se relaciona ao indivíduo e às características familiares.

Nem o melhor genoma, porém, conseguiria evitar que a máquina humana resistisse aos impactos a que, muitas vezes, a submetemos, tanto do ponto de vista psicológico quanto orgânico. Assim, convém que a prevenção individual seja acionada sempre que os limites impostos pelo bom senso sejam ultrapassados.

Atletas e esportistas de fim de semana devem se relacionar com ortopedistas e cardiologistas; gulosos e esganados com os gastroenterologistas e nutricionistas; praianos com os dermatologistas; cantores, locutores e políticos com os otorrinolaringologistas – em visitas periódicas.

Aos médicos clínicos, cabe a tarefa de orientar, baseados em premissas epidemiológicas, a que exames de maior frequência seus pacientes devem se submeter, caso não consigam ou não possam modificar seus modos de vida. A previsibilidade em medicina, portanto, não é um ato de adivinhação para a maioria das pessoas. Basta que o médico dê mais atenção à vida que cada um leva. Mesmo em doenças sem etiologia definida, é possível vislumbrarem-se indícios de causalidade, embora tênues e aparentemente pouco relevantes.

BRUNO FIALHO BRAGA* *Médico


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