sexta-feira, 26 de agosto de 2011

que vazio é esse?


volta e meia deparamos com o sentimento de que falta alguma coisa em nossa vida


Numa entrevista recente, a atriz Isis Valverde desabafou: "Tenho um buraco enorme dentro de mim, uma falta que não consigo explicar ou preencher, e que está sempre presente em tudo o que faço". Como um pano de fundo, esse sentimento a acompanha em suas conquistas, projetos, relacionamentos. Às vezes fica encoberto, mas se há um pouco de silêncio interior, ele pode se manifestar claramente. E isso não acontece só com ela. O que Isis descreveu tão bem é algo que habita o coração de todos.

Essa quase indefinível sensação de necessidade e carência foi descrita pela filosofia, pela psicologia, pela literatura. Para alguns ela é intensa, para outros se apresenta menos profundamente e com mais raridade. Porém, uma vez ou outra na vida, nos encontramos com esse sentimento inequívoco de falta de algo que nem conseguimos definir direito o que é. "Na mitologia grega, a mãe de Eros, o desejo, é a Penúria, a falta. Sabiamente, os gregos colocavam a carência como a origem de tudo que desejamos na vida. Para eles, esse gosto de escassez, de insuficiência, de insatisfação é a grande faísca que dá partida às nossas ações, planos e sonhos", diz a professora de mitologia Helenice Hartmann.

Saber disso gera alívio. Muita gente não consegue identificar esse aperto no peito que nos angustia, e mal percebe que ele está ali presente, ou que sequer existe. Ao dar um nome para esse sentimento difuso, mas insistente, a vida pode se reorganizar de uma maneira diferente. Podemos reconhecer o que nos incomoda e, mais que isso, observar como essa falta primordial é capaz de conduzir, nem sempre de uma maneira mais sábia, a maioria dos nossos movimentos existenciais. Com base nessa nova consciência, é possível, então, uma regulação mais equilibrada de nossos desejos: já sabemos o que os origina, e assim podemos administrá-los melhor. Se admitimos que essa falta jamais será preenchida com as ilusões do universo material, ou mesmo emocional, vamos abrandar a fome com que nos atiramos às pessoas e às coisas. Dessa maneira, é possível nos contentarmos mais com a vida, e até nos alegrarmos e nos sentirmos gratos com o que já temos, pois atendemos a essa necessidade de outra forma. "Não se trata de suprimir o desejo, mas de transformá- lo: de desejar um pouco menos aquilo que nos falta e um pouco mais aquilo que temos; de desejar um pouco menos o que não depende de nós e um pouco mais aquilo que de fato depende", sugere o filósofo francês contemporâneo André Comte-Sponville. Sem dúvida, isso já é um ótimo começo.

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