sexta-feira, 26 de agosto de 2011

...conhecer o outro



"Só me conhecerão quando eu morrer "

Gustavo Gitti


Nós estaremos todos mortos em breve.Lembretes diários assim ajudam a sustentar a perspectiva da morte e direcionar a vida ao essencial.Afinal ,não é muito inteligente esperar para nos lembrar do que vale a pena!

Do mesmo modo que destila a vida,o olho da morte pode melhorar os relacionamentos.Para abri-lo,vamos observar o que acontece em um velório caricato.Todos começam a conversar sobre sua conexão com o falecido ( a ) .O Filho fala do pai,para o sócio,da mãe.Que descreve o que ele via.

A namorada surpreende a ex - mulher com histórias que não parecem vir de seu ex - marido.O amigo do judô dá risada com o amigo da dança de salão.A diretora de uma ONG revela como ele a ajudou secretamente por décadas.

Só conhecemos uma pessoa quando ela morre.

Mas talvez possamos antecipar o processo.


O que vemos quando olhamos para esposas,namorados,amigos,filhas,funcionários?????

O outro surge cem por cento ( 100%) como a identidade que foi construída pela relação.

Começamos a enxergá-lo de um jeito e,em pouco tempo,não mais desconfiamos de que ele seja muito mais do que nos aparece,de que outros o ativem de outro modo,de que ele encarne diferentes risadas,olhares,gestos.

A cegueira se evidencia quando o flagramos em outro mundo,reencontrando um amigo de infância ou palestrando.É como se fosse outra pessoa!


Nunca abraçamos alguém por inteiro - e nem deveríamos tentar.Conectar-se com essa pessoa livre,não apenas com suas identidades,é o melhor jeito de aprofundar a relação.


Conhecer o outro muitas vezes significa congelar o outro.Para conhecer alguém é preciso desconhecê-lo,relacionar-se,com o espaço onde surgem suas faces e suas histórias.Liberar o outro de quem ele é.


Impedimos as pequenas mortes,e renascimentos,quando silenciosamente,sem saber exigimos que o outro encarne de novo e de novo o personagem com o qual estamos acostumados.Desejamos surpresas ao mesmo tempo q ue as dificultamos.Ao controlar,tentamos garantir que a relação dure,que não sejamos abandonados,que o outro não seja assim tão livre:

" mude ,mas somente dentro das mudanças que eu espero "...

Podemos deixar os outros morrerem mais antes da última morte,conhecê-los é alimentar sua imprevisibilidade,descobrir não tanto quem a pessoa foi ou é,mas quem não é,quem pode ser!!!



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