sábado, 27 de agosto de 2011

A Palavra,Martha Medeiros

Freud,costumava dizer que poetas e escritores precederam os psicanalistas na descoberta do insconsciente.Tudo porque literatura e psicanálise possuem um profundo elo em comum: " a palavra"!

Já me perguntei algumas vezes como é que uma pessoa que tem dificuldade com a palavra consegue externar suas fantasias e carências durante uma terapia. Consultas são um refinado exercício de comunicação.Se relacionamentos amorosos fracassam por falhas na comunicação,creio que a relação terapêutica também naufragará diante da impossibilidade de se fazer entender.

Estou lendo um belo livro de uma autora que,além de poeta,é psicanalista,Sandra Niskier Flander.E o livro chama-se,justamente a " pa - lavra ",assim minúsculas e salientando o verbo contido no substantivo, LAVRAR:revolver e sulcar a terra,prepará-la para o cultivo.

Se eu tenho um Deus,e tenho alguns,a palavra é certamente um deles.Um Deus feminino,porém não menos dominador.Ela,a palavra,foi determinante na minha trajetória não só profissional,mas existencial.Só cheguei a algum lugar nessa vida por me expressar com clareza,algo que muitos consideram fácil,mas fácil é escrever com afetação.

A clareza existe simplicidade,foco,precisão e generosidade.A pessoa que nos ouve e que nos lê não é obrigada a ter bola de cristal para descobrir o que queremos dizer.Falar e escrever sem necessidade de tradução ou legenda:eis um dom que é preciso desenvolver todos os dias por aqueles que apreciam viver num mundo com nmenos obstáculos.

A palavra ,que ferramenta.

É pena que haja tamanha displicência em relação ao seu uso.Poucos se dão conta de que ela é a chave que abre as portas mais emperradas ,que ela facilita negociações,encurta caminhos,cria laços,aproxima as pessoas.Tanta gente nasce e morre sem dialogar com a vida.Contam coisas,falam por falar,mas não conversam,não usam a palavra como elemento de troca.Encantam-se pelo som da própria voz e, nessa onda narcísica,qualquer palavra lhes serve.

Mas,não.Não serve qualquer uma.

A palavra exata é um pequeno diamante.
Embeleza tudo : o convívio,o poema,o amor.Quando a palavra não tem serventia alguma,o silêncio mantém-se,no posto daquele que melhor fala por nós.

Em terapia- voltemos ao assunto inicial - , temos que nos apresentar sem defesas,relatar impressões do passado,tornar públicas nossas aflições mais secretas,perder o pudor diante das nossas fraquezas,ser honestos de uma forma quase violenta,tudo em busca de uma " absolvição",que nos permita viver sem arrastar tantas correntes.Como atingir o ponto nevrálgico das nossas dores sem o bisturi certeiro das palavras?

É através dela que a gente se cura.

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