Há poucos dias, um projeto da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre intitulado "Voluntárias pela Vida constroem UTI pediátrica" venceu o troféu ouro do Top de Marketing da ADVB-RS. Foi uma proposta de trabalho voluntário executada em um ano com o objetivo de acrescentar 10 leitos aos 30 da UTI do Hospital Santo Antônio. A maioria deles destinada a pacientes do SUS.
Em quatro meses, as operosas voluntárias, jovens senhoras de nossa sociedade, arrecadaram os quase R$ 4 milhões necessários para as instalações e equipamentos. Após, novamente em tempo recorde, a Divisão de Engenharia da Santa Casa construiu e tornou operacional a UTI mais bonita, aconchegante e tecnologicamente avançada de Porto Alegre. Sua decoração com desenhos de pássaros gaúchos é simplesmente deslumbrante.
Mas nem tudo é ouro. Isso foi apenas uma gota de água no bico do pássaro que persistentemente tenta apagar o incêndio da floresta. As necessidades do sistema de saúde são muito maiores. Um número absurdo de crianças busca diariamente um leito de UTI em todo o Brasil. Pelo alto custo, os hospitais brasileiros vêm fechando suas unidades de cirurgia cardíaca pediátrica, que eram mais de 60 há poucos anos e agora estão reduzidas a oito. Os procedimentos sobre o coração de crianças que nascem com malformações caíram de 8,5 mil em 2010 para pouco mais de 5 mil em 2014. Há cirurgias que causam um prejuízo de 300% aos hospitais, tamanha é a defasagem da cobertura financeira do SUS.
São tempos progressivamente mais difíceis, sombriamente marcados por "escolhas de Sofia" feitas diariamente. Os felizardos que conseguem o seu tratamento chegarão à idade adulta como indivíduos saudáveis. Os demais serão apenas uma memória, uma foto sobre o balcão da sala.
Nem tudo é ouro: a UTI das Voluntárias já funciona há seis meses, constantemente lotada por crianças de outros convênios. Mas o SUS ainda não autorizou que ela seja usada pelos seus milhares de pequenos pacientes.
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