Artigo Zero Hora
MARCELO RECH
Jornalista do Grupo RBS
marcelo.rech@gruporbs.com.br
Jornalista do Grupo RBS
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Mumbai _ Nos anos 70, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão Belíndia para descrever um Brasil onde uma minoria com serviços de Bélgica convivia com a imensa maioria com um padrão de vida da Índia.
Desde lá, a Bélgica ficou ainda mais belga, enquanto Brasil e Índia promoviam grandes avanços graças à estabilização das economias e aos programas de privatização e de transferência de renda. Embora a Índia ainda ostente alguns dos piores indicadores sociais do planeta, 300 milhões de indianos já migraram para a classe média: muitos planejam viagens de férias, compram planos de saúde e, sobretudo, se esforçam em obter a melhor educação possível para os filhos.
Para as famílias indianas, só pelo caminho da educação se conseguirá apagar o status de uma das nações mais desiguais da Terra. Debate-se qualidade de ensino nos jornais, na TV, nas ruas, nas casas. Por um fator cultural, a Índia de hoje se assemelha mais à Coreia do Sul pré-revolução nas salas de aula do que com o Brasil, que desperdiça gerações consecutivas de professores e estudantes sem mover a educação do lugar. Muito além da mão-de-obra barata, é o ensino o motor por trás da transformação do mercado de trabalho na Índia, que se tornou um dos principais polos mundiais de tecnologia.
Em razão da onda tecnológica, a Índia está se saindo bem melhor que o Brasil em termos econômicos _ sua taxa de crescimento rivaliza com a da China. E, apesar da miséria ostensiva e disseminada, os indianos não sofrem com a insegurança no seu dia-a-dia. Com quase 1 bilhão de almas vivendo nas beiradas da sociedade, a Índia põe por terra o mito de que a origem da criminalidade é a pobreza. Se assim fosse, este deveria ser o país mais violento do mundo, mas crimes graves são relativamente escassos _ o índice de homicídios é 10% do brasileiro. A valorização dos laços familiares, o baixo consumo de drogas e uma espiritualidade acentuada contribuem para a tranquilidade nas ruas.
Por essa penca de diferenças entre a Índia de hoje e a fatia mais pobre do Brasil, deve-se pedir licença a Bacha e finalmente se arquivar a expressão Belíndia. Com sua combinação de crise econômica, incerteza política e insegurança, o Brasil poderia ser rebatizado de Belezuela, um híbrido de Bélgica e Venezuela, no qual as duas porções do mesmo país vivem encurraladas pela violência e angustiadas pelo futuro.
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