sábado, 5 de setembro de 2015

" Crescer ... "


Lisandra Pioner

Caderno Vida - Zero Hora
Como é difícil crescer... Acho que essa dor só se iguala à dor de deixar crescer — quando somos pais, por exemplo.
Crescer é dolorido, angustiante, revelador, extenuante, amedrontador, desafiador. Crescer exige coragem, dedicação, comprometimento, vontade, esforço, autonomia, decisão, paciência, exige investimento — de tempo e de emoção. Exige que se aceite a mudança, que se conforme com a finitude de toda e qualquer situação, que se siga em frente, independente da vontade, porque crescer não é escolha, é imposição.
Pode-se não crescer conforme a cronologia sugere. Pode-se não crescer com a obediência servil de outrora. Pode-se não crescer com a disposição e a alegria esperadas. Mas um dia, vasculhando desejos e anseios, preocupações e opiniões, percebe-se que já não se tem mais a saúde, nem a inocência, nem as crenças e muito menos os valores de antes. Então, descobrimos que crescemos.
Os duros golpes da vida nos fazem crescer, e é nesse momento — na impertinência da realidade — que teremos a oportunidade de usufruir daquilo que uma infância e uma adolescência bem construídas e vividas nos deram como alicerce.
Mas crescer também exige o desprendimento do outro — nesse caso, dos pais. Para que uma criança cresça, é preciso que o adulto permita. Só que esse movimento familiar nem sempre é fácil. Permitir que um filho cresça é consentir, implicitamente, que ele se vá. E, com essa ida, resta olhar para si mesmo — e isso, na maioria das vezes, é pungente.
Deixar ir é provar que o “amor incondicional” por aquele ser é descomunalmente maior que o egoísmo de querê-lo só para si. Deixar ir não é negociável, porque, quando um filho cresce, o que sobra aos pais é confiar na educação que se deu, e rezar — independente de crença — para que nada de mal lhe aconteça.
Tempo é o que todos os pais possuem para administrar o próprio crescimento e o de seus filhos. Alguns com muito, outros com pouco e a grande maioria sem tempo para nada. Por isso que quando se é pai ou mãe, é preciso não esquecer que se é, acima disso, um ser humano. Pensar em si faz parte da vivência saudável de se assumir a maternidade ou a paternidade, ou seja, é preciso estar com eles sem ausentar-se de si mesmo.
Crescer dói, deixar crescer também. Mas viver está exatamente no movimento, nessa inconstância de posição e de espaço. Sem dúvida alguma, há compensações generosas em autorizar-se crescer e renunciar ao comando vitalício do outro. Permita-se!

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