Viver um pouco mais
Ruy
Carlos Ostermann*
Gosto dos dias frios, bem mais do que
os quentes e por nada que seja do corpo ou das pernas. Tudo a ver com a cabeça,
a imaginação, o pensamento, as memórias lúdicas e as outras bem mais
insistentes, nem sempre as que ficam como testemunho dessa experiência humana
que subdivido com os outros, os verdadeiros signatários de tudo que aparece no
lusco-fusco dessas minhas vacilações.
Gosto dos dias frios
por essa intimidade que provoca, ao contrário das expansões lúdicas do calor,
que sempre é preciso reorganizar com grandes perdas e atropelos. Um homem suado
é quem para, vacila e fica na sombra à espera de uma mudança de temperatura e
ânimo, um intervalo com a suave hostilidade.
Não sei se produzo
mais, leio ou escrevo ou penso, mas sempre me parece que tenho maior
disponibilidade. O livro abre mais fácil na página que foi deixado na semana
passada, a esferográfica fica mais untuosa na folha limpa, o e-mail parece
sempre mais apropriado e apto para respostas ou novas demandas de texto e
especulações.
Os dias de frio ficam
fora, da janela para longe. É o sentimento deles que está dentro, colado no
corpo e efervescente na cabeça, que serve para intensificar essa outra vontade
de viver um pouco mais.
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* Jornalista. Escritor. Cronista da
ZH
Fonte:
http://www.encontroscomoprofessor.com.br/19/07/2012
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