quarta-feira, 25 de julho de 2012

Culpa do Homer,de José Pedro Goulart


Na TV Globo, Pedro Cardoso reclama da perseguição dos paparazzi aos artistas que, como ele, não deveriam ser alvo da curiosidade, “afinal são iguais aos outros, apenas com um ofício público”. Pedro elege o satã: o empresário que compra o material e depois o dispara em sites e revistas, pondo fogo no circo das notícias bizarras.

O fotógrafo, segundo ele, é somente alguém que faz o trabalho sujo. Ao lado de Pedro, no mesmo programa, um paparazzo diz que “a situação vai piorar”, pois esse é um mercado em expansão no mundo todo: o público “quer”, os “artistas”estimulam. Nem todos são discretos como Pedro Cardoso.

Há algum tempo, William Bonner disse que, quando pensa na edição do Jornal Nacional, procura fazer a cabeça do Homer (Simpson), o cara que, segundo ele, simboliza o cidadão médio. Segundo Bonner, não adianta sofisticar as matérias, o Homer não iria entender, o que terminaria em rejeição.

O sucesso de Os Simpsons – há mais de 20 anos em cartaz – não é porque o desenho se posiciona contra o sistema, ou emite uma lenga-lenga crítica contra a sociedade – embora pareça, e muito, que é isso que a série faz. A sacada mordaz dos realizadores é a de justamente mostrar como vive um sujeito comum; tirar dele qualquer pretensão ou culpa (culpa e pretensão são sinônimos) e devolvê-lo enredado por questões cotidianas as quais todos conhecemos. Homer Simpson é um simpático idiota.

O Woody Allen, neste filme que se passa em Roma, traz um personagem comum, um Homer, que subitamente é incensado à celebridade. Isso acontece do nada, como do nada a fama desaparece, sem explicação.

A gente ri, claro. Mas, assim como do Homer, rimos pela distância que acreditamos estar. Embora não seja bem assim. Poucos resistem à fama – dar opinião no que não entendem, tentar ser visto como importante, postar no Facebook frases ou citações de livros que nunca foram lidos, exibir fotos da família como se fosse um elenco, mostrar o que se come, se bebe, se consome. Somos os paparazzi da nossa própria vida, exibindo-nos compulsivamente.

Ainda sobre a entrevista do Pedro Cardoso, o paparazzo acaba revelando que o maior cliente das fotos, que bate espiando artistas contra a vontade, é o portal Globo.com, das Organizações Globo, em cuja emissora de TV o ator trabalha. A resposta causou um certo desconforto nos dois Pedros, o Cardoso, e o Bial, que conduzia a entrevista.

Vale destacar que a entrevista continuou e, mesmo não sendo ao vivo, mas gravada, foi exibida. O sistema dita as regras, produz e reproduz. E as regras são claras, vale até falar mal de si de vez em quando, desde que, no final, tudo permaneça como está. A gostosa pagando calcinha, uma declaração ordinária mas picante em destaque, o Pedro na novela. E o Homer no sofá.

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