MARTHA MEDEIROS
O encurtamento
das durações
Quanto tempo leva para
superar a dor da perda? Quanto tempo para digerir uma rejeição? Absorver que um
sonho terminou? Esquecer uma frustração? Uma mágoa de infância? Um trauma? Uma
demissão? Os psicanalistas provavelmente responderão que é preciso respeitar o
ritmo de cada um. Há quem seja rápido na retomada da vida, e há os mais lentos,
que necessitam de um acompanhamento mais intensivo. Não há como decretar: dois
dias, dois meses, dois anos. Só que a maioria da população não procura
psicanalistas. Não têm dinheiro pra isso, e muito menos disponibilidade. As
pessoas não podem parar no meio do dia para se consultar, pois trabalham
insanamente, e tampouco possuem tempo para, segundo elas, desperdiçar. Sabe-se
que análises são demoradas, que buscam e rebuscam nossa intimidade, que não é
num estalar de dedos que se atenuam as dores internas. E qualquer coisa que
demore, hoje em dia: não, obrigada.
Que inquietação.
O passado e
o futuro são dois períodos que já não interessam: cultua-se o presente como
nunca antes. O que vale é este momento, agora, o instante vivido. Tudo
digitalizado, virtual, instantâneo. Quem ainda espera dias por uma resposta?
Meses por uma solução?
Na vida burocrática, governamental, a demora
ainda é praxe e se vale da morosidade para arrecadar mais e mais dinheiro, mas
no plano pessoal, encurtaram-se as durações. Vive-se tudo de forma mais
compacta, o começo e o fim mais próximos do que jamais foram. E acabamos
impregnados dessa urgência, dessa vontade de resolver todas as tranqueiras com a
maior agilidade possível.
Porém, há tranqueiras e tranqueiras.
Você consegue resolver pendências profissionais de imediato, consegue
tomar decisões práticas sem se alongar: parabéns. Salve a produtividade. Mas não
foram essas as questões levantadas no início desse texto. Falávamos de
tristezas, de cicatrizar feridas, de aceitar o destino que nos coube, de
assimilar mudanças.
Sentimentos não são regidos por megabytes por
segundo, não se vinculam a relógios, não obedecem a leis objetivas – é o curso
da natureza que manda. E a natureza é surda e cega para o desatino. Exige a
introspecção devida, sem a qual nada se resolve, só se mascara.
Diante
da dor emocional, só há uma ordem a respeitar: paciência. De nada adianta
inventar alegrias fajutas e se oferecer para a cobiça do mundo sem antes estar
com a alma serenada e forte. É preciso saber esperar, do contrário a gente se
atrapalha e só reforça a miséria existencial que preenche as madrugadas.
Basta de tanta gente evitando pensar, evitando chorar, evitando olhar
para dentro de si mesmo, sorrindo de um jeito tão triste que só faz demorar
ainda mais o reencontro com o sorriso verdadeiro – aquele aguardando a hora
certa de voltar.
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