quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Crise em Natal chega às ruas com ataques a ônibus após transferência de presos

220 detentos do Sindicato RN foram transferidos de cadeia enquanto 15 ônibus foram incendiados


Rebelião em Alcaçuz

Nísia Floresta (Rio Grande do Norte) 
O quinto dia de tensão no Rio Grande do Norte extrapolou os muros da penitenciária de Alcaçuz e chegou às ruas de Natal. Nesta quarta-feira, ao menos 15 ônibus e um carro oficial do Governo do Estado foram incendiados na capital. Os crimes ocorreram enquanto cerca de 220 detentos eram transferidos da penitenciária que fica em Nísia Floresta, na região metropolitana, para o presídio de Parnamirim, a 20 quilômetros dali. O secretário de Segurança Pública do Estado, Caio César, afirmou que a destruição dos ônibus está sendo investigada, mas que “provavelmente” existe um vínculo com o deslocamento dos detentos. Duas delegacias também foram alvos de pedradas e disparos na cidade, mas ninguém foi ferido ou detido nos ataques.

A tensão em Alcaçuz iniciou-se no sábado, quando membros do PCC e do RN entraram em confronto por uma disputa de território interno. Ao menos 26 pessoas morreram naquele dia. Embora essa rebelião não tenha se repetido nos dias seguintes, o controle total da situação jamais foi restabelecido. Há tensão e trocas de ameaças entre os presos, que seguem fora das celas - as estruturas internas do presídio, já precário e superlotado, foram praticamente destruídas nos últimos dias. Neste panorama, os ônibus queimados pela cidade nesta quarta-feira são mais um ingrediente explosivo, embora não seja a primeira vez que Rio Grande Norte sinta nas ruas os reflexos da força do crime organizado. Em agosto de 2016, o Estado foi sacudido por três dias em uma onda de ataques que totalizou 65 ocorrências. Na época, ônibus também foram incendiados e prédios privados e públicos foram alvejados e as autoridades acusaram lideranças do Sindicato do Crime de estarem por trás das ações como reação à instalação de bloqueadores de celulares nos presídios.
Veja o relato da repórter durante a transferência dos detentos.
A retirada de membros do RN de Alcaçuz pode representar uma espécie de vitória para o PCC, já que  as duas facções reivindicavam a saída do grupo rival desde o início desse confronto. A rebelião das mulheres do lado de fora do presídio na tarde desta quarta, aponta para esse sentimento de derrota para a majoritária RN. É fruto também de uma questão mais prática: as famílias dos internos transferidos já estão acostumadas a ir a Alcaçuz para as visitas. Muitas mulheres já calculavam quanto a mais gastariam se tivessem de ir para Parnamirim. Mais cedo, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Expedido Ferreira de Souza, afirmou em uma reunião com entidades que “o Estado perdeu para o PCC”, e que a situação em Alcaçuz “é muito preocupante”.


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