Às favas quem critica os procuradores

Sabe onde tá o dinheiro com que você pagaria o supermercado? Tá no bolso de Zé Dirceu, na conta bancária de Marcelo Odebrecht, e de tantos outros ora sob investigação. É gente que, há décadas, tem privilegiado acesso à grana preta que você manda, a cada minuto, para os cofres de prefeituras, estados e governo federal.
E é contra isso que procuradores se insurgem quando ameaçam largar a Lava Jato, que já é um exemplo mundial de combate à corrupção em estado de direito democrático. 
Quem lhes tira a razão alega que, em pleno ano de 2016, ainda é possível seguir a cartilha da “negociação” política.
Ora bolas, a turma engaiolada nos gabinetes de Brasília não só não quer dar ouvidos ao “clamor das ruas”.
Finge-se alheia, principalmente, à vasta maioria silenciosa que foi pro olho da rua por causa da “irresponsabilidade fiscal” dos governos de municípios, estados e União.
O brasileiro vem sendo cronicamente assaltado por uma sofisticada organização criminosa.
Não venham pedir paciência a esses bravos procuradores da Lava Jato que se revoltam contra uma lei sem pé nem cabeça aprovada por deputados que só pensam em não ir pra cadeia. (Uma lei, de resto, que tem todo o jeito de ser inconstitucional.)
Outra coisa: enfiaram a mão à vontade no dinheiro que é seu, meu, nosso, e agora vêm com essa história de que a PEC dos gastos (que impõe valores máximos para as despesas públicas) é que é importante.
Não é.
A PEC dos gastos é bobagem. É puro marketing. Na melhor das hipóteses, melhora um pouquinho a credibilidade internacional e atenua o chamado “risco Brasil”.
A PEC dos gastos é argumento de quem olha, por exemplo, para a Previdência e prevê um futuro inadimplente pra ela.
Outra besteira.
Permita-se que corruptos e corruptores sigam soltos, que veremos, assim como 2 + 2 são 4, que futuro inadimplente tem o país onde a corrupção corrói a carga tributária imposta à população, seja ela de que tamanho for.
Frente ao tamanho da organização criminosa que pilhou os cofres do Estado, a idade mínima pra aposentadoria tem importância zero.
São terríveis os números do desemprego, do PIB, da renda per capita, da violência, dos mortos sem atendimento em hospitais.
Só na cidade do Rio de Janeiro, os roubos em que a vítima é assassinada (latrocínios) aumentaram 333% em outubro, em relação a outubro do ano passado.
333%!
O Brasil afunda na pior recessão de sua história e na pior recessão do mundo agora em 2016.
Enquanto isso, congressistas querem salvar a própria pele pra continuar a roubar.
E o presidente da República faz saber que está mesmo é empenhado em aprovar a PEC dos gastos, um projeto para o qual a “base aliada” de Michel Temer (mas inimiga do País) parece olhar com extrema boa vontade e simpatia.
Não dá mais pra brincar com a paciência do cidadão.
Os panelaços de ontem foram só uma primeira amostra dos protestos que vêm por aí.