
Quando penso na educação de nossos dias quase não vejo ousadia, quase não ouço falar em novidades ou mudanças, embora educação lembre transformação, dinamismo, criação.
Para que haja mudanças é preciso ousar! As mudanças trazem em si os germes de idéias espetaculares.
É preciso ousar transformar velhas receitas em novas fórmulas; ousar experimentar novos caminhos na prática de sala de aula, nas avaliações, na relação com os alunos.
Professores ousam quando escutam os alunos, quando dividem com eles a responsabilidade pela solução de problemas cotidianos e do grupo, quando podem ser espontâneos e éticos, quando podem ser afetivos e quando conseguem, sobretudo, ser criativos.
Por que há tantos empecilhos quando se pensa em criar, variar, experimentar? Por que fica um medo no ar sempre que algo novo desponta?
A maioria das pessoas se apóia no que deu certo, mesmo que tenha sido um sucesso aparente, ou apenas uma experiência razoável.
O conservadorismo traz segurança para quem se acomoda e não dá atenção às idéias.Para ousar também é preciso deslocar coisas, pessoas, pensamentos.
Talvez esse deslocamento gere muita angústia. Mas é a angústia mobiliza e produz resultados.
Há muitos educadores e algumas instituições competentes experimentando o novo, apesar de todas as dificuldades sociais e culturais sempre presentes. Sei que representam a minoria, e sei também que as minorias já provocaram transformações sociais importantíssimas.
Atualmente parece penoso e até “perigoso” para a reputação de qualquer instituição privilegiar a formação, em detrimento da preparação para o vestibular ou para uma atuação alienada e morna na sociedade.
É difícil ser diferente da maioria e nadar contra a corrente. Mas precisamos insistir; resultados significativos começam a aparecer.
Há algumas semanas ouvi no rádio o depoimento do coordenador do vestibular da Unicamp e fiquei admirada e feliz. Infelizmente não me recordo seu nome mas quero transcrever aqui o recado que ele deixou para os vestibulandos, mais ou menos assim:
“-Cheguem pontualmente e, sobretudo, venham tranqüilos. As provas foram elaboradas para que todos tenham a possibilidade de se sair bem...as questões são familiares e não há pegadinhas! (as famosas “pegadinhas” para confundir os alunos, lembram-se?). Portanto fiquem serenos e confiantes.”
Tive a sensação, prazerosa, de que esse professor gosta de ensinar e quer que os alunos aprendam; torce pelo aprendizado e não pelo prestígio de quem ensina.
Educar é criar possibilidades, criar condições dos alunos acertarem mais e muitas vezes, orientando-os na busca pelo auto-conhecimento através da valorização de suas habilidades.
É preciso continuar ensinando, sim. Porém, é urgente que se ensine adequadamente, respeitando as diferenças, as qualidades individuais e valorizando o que cada um tem para dar. Muitas escolas ainda massacram os alunos com um lastimável apreço pela padronização e uma quantidade de conteúdo infindável.
Tenho consciência de que estou repetindo palavras antigas, queixas de décadas passadas...
Vivo a experiência de ser minoria.
Não faz mal! A maioria não tem feito grandes progressos. A maioria continua sobrevivendo, repetindo as velhas fórmulas, esperando.
Viva a minoria que não espera e ousa. Viva!
Ousadia...
A palavra há em mim.
Arraigada paixão
que funde corpo, alma,
pensamentos...
A palavra há em todos,
assim como estrelas habitam
o vazio do caos.
Por que só em mim
recai a maldição da idéia?
*Cláudia Arbex é psicanalista formada pelo Instituto Sedes Sapientiae e educadora e psicopedagoga formada pela PUC- SP

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