sexta-feira, 27 de maio de 2011








Alguma coisa está fora da ordem


Alimentamos a ideia de que podemos controlar tudo em nossas vidas. Nada mais enganoso. E isso vale inclusive para aqueles que acreditam ter na mão as rédeas da situação. Afinal, será que existe destino?


*texto Liane Alves (editado e retirado da revista Vida Simples da editora Abril)

A questão é que essa sensação que nos alivia se baseia numa formidável ilusão: a de que realmente conseguimos controlar a vida. Feliz ou infelizmente, porém, a existência se revela bem mais indomável e resistente do que podemos imaginar.

Fúria de titãs
O desejo de controlar a própria existência levanta muitas perguntas de caráter universal:


Será que existe destino?
Como funciona a lei do carma?
Tudo está predeterminado desde o início?
Temos mão no jogo da vida ou ela já foi escrita nas estrelas?


O filme A Fúria dos Titãs, um clássico das sessões da tarde na televisão, traduz em imagens uma das possíveis respostas a essas perguntas.


Em determinados momentos da fita, os deuses do Olimpo, que assistem de cima à trama que se trava lá embaixo na Terra, simplesmente dão sumiço, substituem ou mudam de lugar determinado personagem, como se se divertissem com um enorme jogo de xadrez.


Ora ajudam o herói com suas benesses e presentes, ora o atrapalham com monstros e titãs.


O princípio do jogo é aparentemente benévolo: tudo é feito para que ele possa aprender com os obstáculos e fazer seu caminho com o reconhecimento de que pouco pode fazer sem a ajuda divina. Isto é, mostra que as grandes questões existenciais que têm a ver com o desenvolvimento de sua consciência estão fora do seu controle. Ponto.



Provavelmente não dependemos de deuses barbudos que jogam xadrez no universo.


Mas é possível que estejamos sob o jugo de forças e leis capazes de tirar o controle de nossas mãos, especialmente quando não as conhecemos direito.


Diz o professor e matemático norte-americano Leonard Mlodinow, que escreveu um livro, O Andar do Bêbado, onde analisa algumas das possíveis leis pouco conhecidas que atuam na nossa vida, como a da aleatoriedade.

Ele diz, por exemplo, que o acaso tem um importantíssimo papel em nossa existência.
E que é falta de bom senso querer eliminá-lo.



Se enrijecemos no controle, se engessamos a existência na maneira como achamos que as coisas devem acontecer, diminuímos as chances da aleatoriedade, ou o acaso, se manifestar - uma perda verdadeiramente lastimável, de acordo com Mlodinow.


Algumas pessoas reconhecem isso intuitivamente.


"Acho que o universo é bem mais criativo do que eu.



Planejo, organizo, faço cálculos e previsões, mas, se observo uma mudança de rumo, não a descarto imediatamente. Primeiro vejo se o quadro geral pode se beneficiar com ela.

O engraçado é que na maioria dos casos a interferência se revela positiva".

"Mesmo se considerarmos que a chance de esse imprevisto ou mudança ser favorável seja apenas de meio a meio, ainda assim teremos 50% de possibilidade de que essa interferência seja benéfica, o que é um índice bem alto. Um controlador exacerbado jamais admitiria isso."



Outra lei que é a maior casca de banana em nossos desejos de manipulação é a polêmica Lei de Murphy.

Pode anotar no seu caderninho: quando o controle é excessivo, o tiro sai pela culatra.


Pois é. Perdemos a sabedoria de que existe o momento de assumir responsabilidades, planejar, organizar e realizar.


Mas que também pode haver outros para soltar as rédeas, relaxar, criar e aprender com o que se apresenta.


E que é saudável ter essa possibilidade bem presente e viva nas nossas escolhas e decisões. Let it be, deixe acontecer.

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