sexta-feira, 27 de maio de 2011

Carpe Diem - viva vida passo a passo







Carpe Diem



Por que essa expressão tão difundida no decorrer dos séculos nunca foi tão importante para sua vida quanto nos dias de hoje


*texto Juliana Sayur i(editado e retirado da revista Vida Simples da editora Abril)

Quebrar o caramelo queimado do crème brûlée com uma colher, lançar pequenas pedras a quicar como singelas notas musicais na correnteza do rio, espiar discretamente as delicadas obras de arte do vizinho pela janela.


Essas cenas triviais passariam invisíveis ao frenesi cotidiano de muita gente, mas estrelam diversos momentos líricos dos petits plaisirs de uma jovem garçonete em Paris.



Assim, deslizar as mãos em um rústico saco de feijão seria quase tocar o pote de ouro no fim do arco-íris.
Ao menos para a doce francesinha do clássico contemporâneo O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Nas suas peripécias diárias para tornar a vida dos amigos mais alegre, Amélie nos faz um convite para aproveitar o dia.



O poeta latino clássico Quinto Horácio Flaco escreveu os célebres versos: “Melhor é aceitar! E venha o que vier! Quer Júpiter te dê ainda muitos invernos, quer seja o derradeiro este que ora desfaz nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno, vive com sensatez destilando o teu vinho e, como a vida é breve, encurta a longa esperança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos: trata, pois, de colher o dia, o dia de hoje, que nunca o de amanhã merece confiança”.


O poema que ficaria cristalizado o termo carpe diem, ou “aproveite o dia”, em bom português – uma espécie de expressão-filosofia que valoriza as trivialidades fascinantes de uma vida simples.
“Vive sem esperar pelo dia que vem; Colhe hoje, desde já, as rosas da vida”.
Ao longo dos séculos, o carpe diem se tornou um mantra, ainda mais difundido na nossa sociedade contemporânea, tão abarrotada de afazeres e sem tempo para esses pequenos prazeres de se viver o hoje.


Fruir para não fluir


À revelia das pressões modernas, com o isolamento de uma sociedade consumista, workaholic e ensimesmada nas metrópoles cinzas, ainda há espaço para um espírito de fruição da vida, de abertura às gratificações do efêmero: uma caminhada sem destino, o pastel na feira, a cerveja com um velho amigo na happy hour, as cores únicas do céu no pôr do sol...


“Afinal, a vida é algo que se gasta, que se esvai, que flui. Nesse sentido, é puramente sensorial. O próprio permitir-se a não pensar é um ‘colher o dia’ valiosíssimo”, diz. Uma questão intrínseca ao carpe diem é a bela e angustiante transitoriedade da vida.


A cultura ocidental, com a assimilação da cultura judaico-cristã, impôs a ideia de que para se conquistar uma felicidade além-túmulo é preciso renunciar aos impulsos dos desejos carnais e das satisfações fugazes: “Diria que tal renúncia não deixa de ser uma renúncia à própria vida, à própria existência humana”.


Diante de nossas incertezas, há uma certeza inelutável: a vida é finita, dissipando-se diante de nossos olhos a cada milésimo de segundo.


Assim, ninguém poderia ser feliz para sempre, pois justamente o “para sempre” é inatingível. Os dias passam, as pessoas passam, as histórias passam. “Mas talvez a beleza da vida possa residir precisamente nisso.

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