quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

" Papa Francisco encontrou-se com Stephen Hawking"


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Papa Francisco e Stephen Hawking | Vaticano, 28.11.2016 | D.R.

O papa encontrou-se esta segunda-feira, no Vaticano, com o físico e cosmólogo inglês Stephen Hawking, no contexto da sessão plenária da Academia Pontifícia das Ciências, que decorre entre sexta e terça-feira, 29 de novembro.

O investigador ateu de 74 anos, membro da Academia desde 1986 e um dos cerca de 60 participantes no encontro, falou sobre "A origem do universo" no primeiro dia da iniciativa.

Na assembleia plenária da academia, considerada a mais antiga do mundo no domínio da ciência e aberta a investigadores independentemente da sua pertença religiosa, participam várias personalidades distinguidas com o prémio Nobel.

No livro "Uma breve história do tempo" (1988), Hawking referiu que o papa S. João Paulo II tinha voltado a despertar nele o interesse pela origem e destino do universo.

Em junho de 2015, entrevistado pelo jornal espanhol "El mundo", Hawking afirmou que antes de se «compreender a ciência, é natural acreditar que Deus criou o universo».

«Mas agora a ciência oferece uma explicação mais convincente. Quando digo que "conheceríamos a mente de Deus" quero dizer que conheceríamos tudo o que Deus conheceria, se houvesse um Deus, que não existe. Sou um ateísta», declarou.

Em conferência proferida este mês em Oxford, o cientista mostrou-se convicto de que a humanidade precisa de encontrar outro lugar para habitar porque a Terra deixará de ter condições.

«Não acho que sobreviveremos mais do que os próximos mil anos sem escapar desse planeta tão frágil. Eu quero que as pessoas tenham interesse em estudar o espaço, assim como eu tive desde cedo», disse.

No discurso aos participantes na assembleia plenária, Francisco acentuou que nunca como agora é tão «evidente a missão da ciência ao serviço de um novo equilíbrio ecológico global».

«E ao mesmo tempo está-se a manifestar uma renovada aliança entre a comunidade científica e a comunidade cristã, que veem convergir as suas diferentes aproximações à realidade para esta finalidade partilhada de proteger a casa comum, ameaçada de colapso ecológico e pelo consequente aumento de pobre e de exclusão social», apontou.

Excertos da intervenção do papa:

«Na modernidade, crescemos a pensar que éramos os proprietários e os donos da natureza, autorizados a saqueá-la sem qualquer consideração das suas potencialidades secretas e leis evolutivas, como se se tratasse de um material inerte à nossa disposição, produzindo, entre outras consequências, uma gravíssima perda de biodiversidade.

Na realidade, não somos os protetores de um museu e das suas obras-primas a que devemos tirar o pó todas as manhãs, mas os colaboradores da conservação e do desenvolvimento do ser e da biodiversidade do planeta, e da vida humana nele presente. 

A conversão ecológica capaz de suportar o desenvolvimento sustentável compreende de maneira inseparável quer a assunção plena da nossa responsabilidade humana em relação ao criado e dos seus recursos, quer a procura da justiça social e a superação de um sistema iníquo que produz miséria, desigualdade e exclusão. 

Em resumo, direi que cabe antes de tudo aos cientistas, que trabalham livres de interesses políticos, económicos ou ideológicos, construir um modelo cultural para enfrentar a crise das alterações climáticas e das suas consequências sociais, de modo que as enormes potencialidades produtivas não sejam reservadas apenas a alguns. 

Do mesmo modo que a comunidade científica, através de um diálogo interdisciplinar no seu interior, soube estudar e demonstrar a crise do nosso planeta, assim é hoje chamada a constituir uma liderança que indique soluções gerais e particulares sobre temas que são discutidos na vossa assembleia plenária: a água, as energias renováveis e a segurança alimentar. 

Torna-se indispensável criar com a vossa colaboração um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas, antes que novas formas de poder derivadas do paradigma tecno-económico produzam danos irreversíveis não só ao ambiente, mas também à convivência, à democracia, à justiça e à liberdade. 

Neste quadro geral é digna de nota a fraca reação da política internacional - ainda que haja louváveis excecções - em relação à vontade concreta de procurar o bem comum e os bens universais, e a facilidade com que são desatendidos os fundados conselhos da ciência sobre a situação do planeta.
A submissão da política à tecnologia e à finança, que procuram antes de mais o lucro, demonstra-se na "distração" ou atraso na aplicação dos acordos mundiais sobre o ambiente, bem como pelas contínuas guerras de predomínio mascaradas de nobres reivindicações, que causam danos cada vez mais graves ao ambiente e à riqueza moral e cultural dos povos.»
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Rui Jorge Martins 
Publicado em 28.11.2016

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