segunda-feira, 21 de março de 2016

" O Dia Depois de Amanhã "

Economia< Marta Sfredo >
Se nenhuma bomba explodir logo nas primeiras horas úteis da semana, está previsto para esta segunda-feira o início do anúncio de medidas de estímulo à economia do governo federal. 

Seria um conjunto de iniciativas capazes de movimentar R$ 15 bilhões, uma tentativa de mostrar que, a despeito das aparências, o governo ainda governa. 
No foco do pacote, estão a redução da meta fiscal para este ano, com objetivo de para criar ¿espaço orçamentário¿ para bancar obras e a renegociação da dívida de Estados. Também haveria corte controlado dos chamados ¿depósitos compulsórios¿, recursos que os bancos são obrigados a deixar depositados no Banco Central, sem remuneração. 
Além das dúvidas que cercam o lançamento do pacote – a ideia seria fazer uma transição para a etapa do governo com maior participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hipótese hoje cercada de incertezas –, existem interrogações sobre a oportunidade das medidas e seu alcance.A queda de 3,8% no PIB em 2015 desidratou a economia de cerca de R$ 100 bilhões, em números redondos. Diante dessa estiagem de ativo circulante, não parece que R$ 15 bilhões sejam capazes de fazer grande diferença, a essa altura. 
Se antes se debatia o motivo da redução no crédito – falta oferta, falta demanda ou falta confiança – com o desembarque maciço, mas ainda não unânime das entidades empresariais –, a incógnita só cresce. Mas a maior questão é se ainda há um amanhã para o atual governo ou se o grande interesse passou a ser o dia depois de amanhã. 
Ainda de maneira muito hipotética, tateante e cautelosa, as especulações mudaram muito rapidamente para um eventual governo Temer, com todo o risco que há sobre a hipótese. Um dos sinais que reforçaram o início das conversas de bastidores foi a entrevista do ex-ministro José Serra (PSDB-SP) ao canal Globonews. Na entrevista, Serra afirma que seu partido teria ¿obrigação de assumir responsabilidades¿ nesse eventual dia depois de amanhã. No Senado, Serra defende uma ¿frente de reconstrução nacional¿. 
 As conversas já evoluem para uma eventual ¿itamarização¿ de um ainda potencial governo Temer. O nome viria da estratégia adotada pelo então vice-presidente de Fernando Collor, Itamar Franco, que em 1992 tentou fazer um ministério técnico e suprapartidário.Na tese de Serra, o maior problema da economia brasileira é a falta de credibilidade, o que seria parcialmente sanado com a assunção de Temer, que ele compara a Maurício Macri na Argentina. 

Entre outros inúmeros ¿ses¿, é bom ter em conta que Temer foi citado na Operação Lava-Jato. E se Serra é tão político quanto economista – e cotado para uma pasta em uma eventual gestão Temer, outros economistas nada alinhados com o atual governo, como Samuel Pessôa, da Fundação Getulio Vargas, advertem que os desequilíbrios estruturais do Brasil são subestimados pelo mercado financeiro, que reage com otimismo a todo sinal de fragilização de Dilma e por quem espera que a simples troca de inquilino no Planalto devolva o país instantaneamente à normalidade.

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