terça-feira, 18 de abril de 2017

FHC nega ‘acordão’ contra Lava Jato e defende diálogo “às claras” sobre crise

Ex-presidente reagiu à reportagem da 'Folha' sobre reuniões com Lula e Temer para tratar do tema


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rejeitou neste domingo estar participando de articulações com o também ex-presidente Lula e com Michel Temer para a sobrevivência política do seu PSDB, do PT e  do PMDB em meio ao tsunami provocado pelas denúncias dos delatores da Odebrecht. O tucano usou sua conta no Facebook para se pronunciar: "Não participei e não participo de qualquer articulação para estancar ou amortecer os efeitos das investigações da Operação Lava Jato. Qualquer informação ou insinuação em contrário é mentirosa."
FHC reagia, sem citar, a uma reportagem da Folha de S. Paulo, que na quinta-feira, disse que ele, Lula, Temer, além de o ex-ministro Nelson Jobim e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, estariam em contato desde o ano passado para tentar uma reaproximação e discutir caminhos. O eixo das conversas, segundo a reportagem, gira em torno da manutenção de Michel Temer no poder, a elegibilidade de Lula, réu na Lava Jato, nas próximas eleições e mudanças na lei eleitoral.
As especulações sobre as movimentações no mundo político para conter o estrago das investigações circulam há meses. Publicamente, o ex-presidente tucano tem defendido a Lava Jato, mas com o envolvimento de nomes do PSDB no escândalo tem dito também que não é justo tratar igualmente contribuição ilegal de campanha, o caixa 2, com outros tipos de ilícitos, como venda de leis e pagamento de propina. No Congresso, há uma corrente que tenta emplacar uma anistia para o tipo de crimeenquanto outros grupos articulam uma reforma política que valha já para as eleições legislativas e presidenciais de 2018.
Em sua mensagem, o ex-presidente disse que o país vive uma "crise gravíssima com desdobramentos econômicos e sociais imprevisíveis" e, por isso, "o diálogo em torno do interesse nacional" é oposto a conchavos, requerendo a presença de representantes do mundo político e da sociedade. Só assim, defendeu, é possível se movimentar com o "propósito de refundar as bases morais da política". FHC ainda disse que o país passa por um "desmoronamento da ordem político partidária e das distorções do sistema eleitoral". Sobre sua participação em articulações com Lula e Temer, ainda ressaltou: "qualquer informação ou insinuação em contrário é mentirosa".
O ex-presidente ainda aproveitou o espaço do Facebook para se defender das acusações de Emilio Odebrecht, que disse ter pago "vantagens indevidas não contabilizadas" nas campanhas de 1994 e 1998: "Basta ouvir a íntegra das declarações de Emílio Odebrecht em seu depoimento ao Judiciário para comprovar que nelas não há referência a qualquer ilicitude por mim praticada nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998 (anos de início de mandato)". Por fim, ele ainda defendeu a continuidade das investigações. "Devem prosseguir", escreveu.
Na última vez que falei nesta página insisti em que chegou a hora de por as cartas na mesa: não participei e não participo de qualquer articulação com o presidente Temer e com o ex-presidente Lula para estancar ou amortecer os efeitos das investigações da Operação Lava Jato. Qualquer informação ou insinuação em contrário é mentirosa.
As investigações em curso devem prosseguir. De seus desdobramentos nada tenho a temer. Basta ouvir a íntegra das declarações de Emilio Odebrecht em seu depoimento ao Judiciário para comprovar que nelas não há referência a qualquer ilicitude por mim praticada nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998.
Dito isto devo reiterar que o país vive uma crise gravíssima com desdobramentos econômicos e sociais imprevisíveis. Esta situação afeta os brasileiros preocupados com a democracia.
Diante do desmoronamento da ordem político partidária e das distorções do sistema eleitoral é urgente um diálogo envolvendo o mundo político e a sociedade.
O diálogo em torno do interesse nacional é o oposto de conchavos. Deve ser feito às claras com o propósito de refundar as bases morais da política.

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