sábado, 17 de dezembro de 2011











O uróboro e a Vida

O que a serpente que come o próprio rabo nos ensina sobre sustentabilidade ?

A serpente é um dos animais mais invocados como símbolo pelo homem. Aparece em Gênesis entre Adão e Eva, representa a fertilidade em Canaã, a força política do Egito, a renovação da vida no Caduceu de Mercúrio – o estandarte da ciência medica. A serpente é ambígua, representa, simultaneamente, o medo e a admiração, o respeito e a inveja, o belo e o horrível. Ao mesmo tempo em que a detestamos pelo perigo de seu veneno e por sua capacidade de aparecer e desaparecer de repente, admiramos a elegância de seus movimentos e a liberdade que sua frieza lhe confere – mesmo presa em um aquário, parece livre, pois aquieta-se, ocupa todos os espaços disponíveis e apodera-se da segurança que o cativeiro lhe fornece.




Do Egito também recebemos o símbolo da serpente que come a própria cauda – o uróboro. Ela quer representar o eterno recomeço da vida, mas permite outras interpretações. Por exemplo, ao formar um circulo, o uróboro cria um espaço interno e outro externo.o lado de dentro simboliza o mundo percebido, a vida como a conhecemos, a matéria,o concreto, a natureza, a ciência.e, no lado de fora, de dimensão não sabida, certamente infinita, caberiam todos os mistérios da vida, de sua origem e de seu fim – os grandes dilemas humanos.



Fora do uróboro está Deus, e nele estamos contidos, pois o circulo criado pela serpente delimita um espaço do todo e fragmenta o infragmentável criando um fractal do infinito.






Nossa esperança infantil e nossa arrogância ingênua desejam que o uróboro abra a boca e nos coloque em contato com o todo, com o divino, para então domina-lo, sem percebemos que provavelmente seriamos absorvidos pelo infinito e pelo eterno, tornando-nos nada.
Lançando um olhar mais atento, percebemos que o uróboro é uma fonte inesgotável de simbolismos.



Ao mesmo tempo, desejamos, e também tememos, que ele abra a boca. Se ele continuar a se comer, pensamos, terminara por consumir-se e desaparecerá,, deixando-nos ao mesmo tempo sem o interno e sem o externo; mas se parar de se alimentar desaparecerá por inanição, e a humanidade permanecerá junto com ele. Desde que foi criado, o uróboro, como a serpente em si, desperta admiração e ódio, aversão e curiosidade.




Mas o uróboro, ele mesmo, não teme por sua sorte, pois descobriu o segredo da vida eterna, da sustentabilidade infinita. Ao alimentar-se de si mesmo, mantém-se vivo, cresce e providencia a substancia que irá alimenta-lo eternamente e, nesse moto-perpétuo, absorve energia do externo, do todo, e mantém o interior aquecido. A sabedoria do uróboro reside em não parar de alimentar-se, porém, se extrair, de si mesmo, mais do que necessita para manter-se capaz de continuar produzindo a substancia que lhe garante a vida. Pode parecer misterioso, mas é simples, pois o uróboro sinaliza para a humanidade o segredo da sustentabilidade: não consuma mais do que você precisa para manter-se vivo e use o resultado de sua produção para recompor o substrato que lhe permite produzir . Simples. Mas não fácil.




Por um lado, há pessoas, empresas e paises que ainda não perceberam que os recursos de nosso planeta não são inesgotáveis, têm fim; e, portanto não podem tender a um crescimento econômico que não tem fim. Por outro, há também pessoas, instituições e ate nações, que já acordaram para a realidade dos fatos e estão buscando contribuir, assumindo sua parcela de responsabilidade.
Em 1983 ( há quase duas décadas e meia), a ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que teve como primeira presidente a ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Em 1987, a Comissão apresentou ao plenário uma Declaração Universal sobre a Proteção Ambiental e o Desenvolvimento Sustentável, que recebeu o nome de Relatório Brundtland. Nele encontramos propostas de novas formas de providenciar o progresso humano, sem comprometer a fonte da riqueza, o que equivale a inteligência humana em aliada do planeta, levando o homem a renunciar a seu instinto predador. No relatório também encontramos o melhor conceito já emitido sobre sustentabilidade: “Satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras garantirem suas próprias necessidades.”. Nada mais claro.

Por Eugenio Mussak

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